Apesar de ser o menor estado do Brasil, a produção agropecuária em Sergipe se destaca em nível nacional. Além de ser o segundo maior produtor de mangaba do país, o estado também se destaca pela produção de laranja, coco-da-baía e crustáceos – o que lhe vale o epíteto de “terra do caranguejo”.
Sergipe é o terceiro maior produtor de camarão do país e nono maior produtor de ostras, vieiras e mexilhões, segundo a última edição da Pesquisa da Pecuária Municipal, realizada em 2018 pelo IBGE. A produção de camarão, também conhecida como carcinicultura, está presente em 380 estabelecimentos sergipanos, segundo o Censo Agropecuário 2017, e vem aumentando ano a ano.
Almiro Barbosa Neto, engenheiro de pesca, trabalha em Brejo Grande, no leste sergipano, o segundo maior município em número de estabelecimentos que vendem camarão. Ele atua na criação e venda do produto há quase 20 anos e, atualmente, cuida de uma propriedade de aproximadamente 100 hectares.
Segundo dados da Pesquisa Pecuária Municipal, a produção de camarões em Brejo Grande aumentou de 380 toneladas, em 2017, para 537 toneladas em 2018. Almiro conta que a região produz uma espécie de camarão adaptada à baixa salinidade das águas fluviais. “Estamos nesta propriedade há quatro anos, desde a queda no cultivo do arroz no município. Percebemos que o potencial de Sergipe na produção de camarão é muito grande”, diz.
Entretanto, as principais lavouras permanentes do estado – a laranja e o coco-da-baía – têm testemunhado queda na produção. Sergipe foi o segundo maior produtor de laranja no país em 2006; em 2017, caiu para a sexta posição. A queda foi parecida com o coco-da-baía: de terceiro lugar, em 2006, também passou para a sexta posição em 2017.
Adilson Cavalcante, coordenador de planejamento da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), aponta uma série de fatores que têm influenciado na redução da produção da laranja no estado, como a incidência de pragas e doenças. “O produtor também vivenciou períodos de estiagem, baixo preço da laranja, pouca disponibilidade de mão-de-obra rural e, ainda, uma redução do consumo mundial de suco de laranja em face da concorrência de sucos de outras frutas no mercado”, explica, e acrescenta: “Esta redução na produção segue uma tendência nacional, não é uma particularidade de Sergipe”.
Outro destaque, o coco-da-baía, teve uma produção de mais de 61 milhões de frutos, segundo o Censo Agro 2017. Apesar de ser a segunda maior lavoura permanente de Sergipe, ficando atrás apenas da laranja, a produção foi menor em relação a 2006, quando o estado era o terceiro maior produtor no país (65,01 milhões de frutos). Vários dos estabelecimentos produtores se beneficiam de projetos e iniciativas governamentais voltados para a irrigação, como o Platô de Neópolis, na região do Baixo São Francisco.
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Mangaba, uma tradição feminina
Sergipe é o segundo maior produtor de mangaba do país, com 766 toneladas (só perde para o Rio Grande do Norte, com 1.072 toneladas), de acordo com dados do Censo Agro 2017. Trabalho tradicionalmente feminino, as associações de catadoras de mangaba, no estado, contam com mais de 600 mulheres.
Estância, localizado no litoral sul sergipano, é o município com maior produção de mangaba (322 toneladas). Lá funciona a Associação das Catadoras de Mangaba do Povoado Manoel Dias (Ascamadi), composta por 30 mulheres que colhem o fruto e comercializam seus derivados, como geleias, bolos, tortas, balas, sorvete, cocadas, licor e até brigadeiro.
O trabalho com a mangaba é mais intenso nos meses de verão, quando a fruta amadurece e cai do pé. Ao ser recolhida, ela é transformada em polpas para conservação e uso posterior ou é desidratada naturalmente em um reservatório que recebe luz solar.
As mulheres contam com equipamento especializado para extrair a polpa do fruto e realizar o preparo dos produtos. Após o preparo, os potes são lacrados, recebem rótulos e são comercializados.
Fabrícia Santos, 21, colhe mangaba há 3 anos; Katiane de Jesus Silva, 32, colhe há 10 anos e Karina Alves, 37, aprendeu o ofício com a mãe há mais de 15 anos. As três trabalham com a mangaba na Ascamadi e têm o fruto como sua fonte de renda.
Para Karina, que hoje é secretária da associação e tesoureira, a mangaba representa uma forma de empoderamento para as mulheres da região. “Trabalhar com a mangaba representa uma vitória para mim. Eu saí de um relacionamento conturbado graças ao apoio da associação e por ter conseguido minha independência financeira”, afirma.