Série Especial: irrigação muda geografia da produção agrícola no país

Produtores plantam arroz em locais anteriormente impossíveis para o cultivo; veja a importância da irrigação também para a exportação de alho e cebolaA irrigação está mudando a geografia da produção agrícola no país. É o caso do arroz, que começa a ser plantado embaixo de pivôs centrais no Paraná e interior paulista, possibilitando a rotação de culturas e diversificando a propriedade.

? Decidimos experimentar o arroz como uma outra opção, uma vez que a irrigação abre esse leque ao produtor. Você pode trabalhar com diversas culturas, inclusive em períodos de estiagem. A grande vantagem da irrigação é a certeza da produção. Uma vez que sei que vou produzir, posso fazer agricultura bem feita, com tecnologia, e a colheita é certa ? afirma o produtor rural Jarbas Reis Neto.

Segundo Ervin Newman, produtor rural que também apostou na irrigação em suas lavouras, a previsão é de que o investimento se pague no prazo de cinco a seis anos.
No mapa da agricultura irrigada, a referência é Cristalina (GO), a terra dos cristais e da irrigação. São 49 mil hectares irrigados que representam 16% da área de lavoura, mas respondem por mais da metade do movimento econômico. Um complexo produtivo que não para. No ABC da agricultura,  Cristalina produz 37% do alho brasileiro, 12% da batata nacional e  responde por 10% da produção de cebola do país.

? A partir de abril, vamos começar nossa safra irrigada, plantando feijão, trigo, milho doce e vamos, até setembro, outubro, com essas culturas. Em outubro, com o retorno das chuvas, começa o ano normal da nossa safra. Plantamos em setembro, outubro e novembro e vamos até abril com essas culturas, que seriam soja e milho. Em abril, novamente termina o ciclo, começando novamente nosso irrigados, voltando a plantar o ano inteiro. Assim, sempre tem emprego e sempre tem alguma cultura sendo plantada ou colhida  ? afirma o agrônomo Leonardo Moreira.

São duas safras de feijão por ano. A colheita mecanizada vai abrindo caminho para o trigo, que vai ganhando espaço na região central do país.

O PIB de Cristalina passa de R$ 1 bilhão por ano. É o maior PIB agrícola do Estado de Goiás e está entre os cinco maiores no ranking nacional. Isso é o resultado do desenvolvimento da produção irrigada, que gera mais de 30 mil empregos diretos na região.

A cebola deve ser classificada de acordo com  o mercado. Um padrão produtivo que só é possível graças à irrigação. A agropecuária Wehrmann produz, em 15 mil hectares de área, 60 mil toneladas de grãos e 156 mil toneladas entre alho, cenoura, batata, beterraba e cebola, gerando 2,1 mil empregos. É um projeto com rastreabilidade que  cumpre as regras internacionais para a certificação socioambiental. Por isso, consegue exportar.

? Nós estamos exportando cebola e alho, as duas culturas que temos competitividade. Temos mandado a cebola e a cenoura para o Uruguai e a Argentina. Já o alho tem sido exportado para Itália e Espanha. Isso é possível graças a água. Só conseguimos exportar neste período, que é a janela que esses países compram os produtos, porque temos água em reservatório para fazer irrigação. Graças a água, conseguimos colocar estes produtos na América do sul e também na Europa ? comemora o produtor rural Rafael Corsino, da agropecuária Wehrmann.

Esta outra fazenda também é uma potência em produção diversificada. O produtor Luiz Figueiredo alia genética, alimentação e manejo. Resultado:  372 vacas produzem 12 mil litros de leite por dia. A água é usada com racionalidade, em um sistema projetado para limpar o estábulo. Ela passa levando os dejetos, vai para um lago de decantação e retorna para a lavoura.

? A gente aproveita os sólidos e separa lá na instalação. A água chega praticamente limpa, mas ainda com algum resíduo orgânico, que vai para fertiirrigação. Tem nitrogênio, fósforo, cálcio, potássio, o que já resulta numa economia na nossa adubação química ? explica Figueiredo.

O produtor tem mil hectares de feijão. Há treze anos produz café embaixo de pivô, com um sistema chamado lepa, onde a água é direcionada para a planta. Ao todo são 26 pivôs e seis barragens, sendo que metade é compartilhada com os vizinhos.

? Graças à irrigação, hoje nós podemos diversificar algumas atividades agrícolas que se quer poderiam ser feitas. Principalmente a cultura de aveia ou trigo, que hoje também é bastante cultivado em função do clima, que é acessível para esta época do ano. Mas sem a irrigação não teria como fazer, pois é uma cultura de inverno e aqui, nesta época, não chove. Tem que ter água para fazer essas culturas. Temos diversos pivôs e trabalhamos sempre com rotatividade: enquanto planta um num ano, planta outro no outro ano ? diz.