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Série Especial: perímetros de irrigação pública respondem por menos de 10% da área irrigada no Brasil

Produtores do Centro-Oeste deixaram de ganhar R$ 1,5 bilhão devido a projetos que não foram postos em prática pelo governoO Brasil é abençoado por ter cerca de 18% de toda água doce no mundo. Mas o desafio é o uso da água com responsabilidade, sem desperdiçar a chance de alimentar o mundo. A agricultura irrigada é a garantia de uma produção estável o ano inteiro. O levantamento feito através do Plano Nacional de Recursos Hídricos revela que o Brasil tem um potencial para chegar a 30 milhões de hectares irrigados. De acordo com senso do IBGE, apenas 4,6 milhões de hectares brasileiros são irrigados ? e o crescimento

Os produtores chamados de irrigantes respondem por 35% do PIB agrícola do país. Falta incentivo para ampliar este potencial, que garante o aumento da produção de alimentos e minimiza o risco agrícola.

No interior do Triângulo Mineiro, no município de Campo Florido, o produtor Ademir Ferreira de Mello atravessa a lavoura de milho, produção garantida pelo pivô central que está funcionando nesta mesma área há mais de duas décadas.

? Este pivô é de 1986. Esta área fez 60 plantios nestes 24 anos. Culturas de milho, soja, batata, feijão e trigo. A irrigação é complementar. Se não chover, você irriga. No ano talvez você use 50 a 60 dias de irrigação. Você liga o pivô entre 10 a 11 horas por dia ? afirma Mello.

O filho do produtor percorre a lavoura de feijão, produto sensível e de ciclo curto que depende da garantia de água para chegar até a mesa dos consumidores.

? A irrigação é a sustentabilidade do agricultor. Nós estamos a 560 metros de altitude, seria impossível produzir feijão se não tivesse irrigação ? afirma Ademir Ferreira de Mello Junior.

Mas não é tão simples assim. Começar um projeto de irrigação exige mais do que investimento: exige paciência e persistência para encarar a burocracia e, principalmente, a falta de conhecimento técnico. É o que explica o agrônomo Oscar Alexandre Eichel, que cuida das outorgas de água da fazenda de Ademir Mello.

? Eu tenho uma ou duas outorgas e 10 equipamentos em várias fazendas, o grande problema é a dinâmica sobre o que é técnico. O levantamento estatístico que se tem por base de outorga não condiz com o que é na prática. Se eu for tirar outorga desta área, provavelmente não vão me dar porque acham que eu não tenho água. Hoje, a irrigação dentro de uma propriedade é tudo. É maximizar o uso da mão de obra, dos equipamentos, dos insumos. Se é bom pra propriedade, imagino que seja bom pro município, pro Estado e pro país. Isso deveria ser incentivado e olhado com mais carinho. Vamos facilitar, ajudar quem quer fazer ? diz Eichel.

O presidente da Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem, Helvécio Saturnino, lembra que os produtores já tiveram um ministério exclusivo para estimular a produção irrigada.

? Não ficou absolutamente nada no que tange a uma política nacional de agricultura irrigada. Hoje é muito difícil você encontrar qualquer pessoa a nível do governo federal que diga que tem qualquer responsabilidade sob o ponto de vista de um delineamento de uma política nacional de irrigação ? alega.

Hoje a irrigação está na pasta do Ministério da Integração Nacional. O coordenador de projetos de irrigação do governo federal, Donivaldo Martins, revela os números em 99 obras dos chamados perímetros de irrigação pública. Os projetos iniciados na década de 60 estão em 13 Estados e cobrem uma área de 270 mil hectares. Respondem por 8% da área irrigada no Brasil. Mas quando questionado sobre os índices de produtividade dos perímetros públicos…

? Esse é um número difícil. Os números mais precisos que temos são da agricultura irrigada como um todo. Ela ocupa menos de 10% da área toda cultivada no Brasil e é responsável por aproximadamente 30% do valor bruto da produção agrícola do país ? alega Martins.

Sobram críticas para esses investimentos do Ministério da Integração Social.

? Queremos sair desse atraso ao qual ficamos submetidos. Desde 1988 que existe um programa de apoio à irrigação ao Centro-Oeste e nunca veio um tostão para nossa região aqui de Cristalina (GO) pra apoiar o produtor. Nesse atraso, já perdemos praticamente R$ 1,5 bilhão ? afirma Alécio Maróstica, presidente da Comissão de Cereais da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás.

O ex-ministro da agricultura, Alysson Paulinelli, concorda:

? Nem no Ministério da Agricultura a irrigação está mais. Como você pode imaginar que seja possível sair daí um produto bom? Eu fico abismado com isso. Acho que há um desperdício total, as leis estão feitas na base do achismo e não do conhecimento técnico-científico, tanto na área ambiental como de uso da água. Os grandes grupos se organizam, os produtores de energia só querem água para energia, as indústrias querem a prioridade, e assim sucessivamente. E a comida? E a energia que nós precisamos que seja renovável? Acho que tudo isso precisa ser repensado. O momento é de rediscutir isso.

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