O especialista em economia rural Ivan Wedekin, que já foi secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e agora é diretor-geral da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), afirma que o produtor tem avançado muito em tecnologia, no gerenciamento da produção e no uso de máquinas potentes, mas lembra que a comercialização ainda é um ponto fraco.
– No mundo da tecnologia, das plataformas eletrônicas, do satélite, do celular, de tudo quanto é informação, o agricultor precisa investir muito mais em ferramentas de apoio à comercialização da safra. Não basta procurar estar informado, não basta ser intuitivo – diz Wedekin.
A comercialização agrícola está diretamente ligada ao financiamento da produção. Existem três maneiras de o produtor fazer financiamentos: pelo crédito rural, que ele adquire no banco, por recursos próprios ou por crédito de terceiros, que podem ser de fornecedores de sementes, de defensivos, entre outros. Aí entram os títulos do agronegócio, que permitem financiamentos com recursos de investidores privados através do mercado de capitais.
Os títulos são cada vez mais usados pelos produtores rurais do Brasil. Os especialistas, no entanto, defendem que todo o sistema de financiamento do país, que favorece a comercialização agrícola, pode e deve ser melhorado.
Wedekin faz parte do grupo de especialistas que está elaborando o plano de ação do agronegócio, que propõe as melhorias. Ele está à frente das discussões sobre comercialização no plano que será entregue aos presidenciáveis. As propostas foram analisadas também por entidades do setor.
Os pontos considerados fundamentais são: avanços e melhorias na legislação dos títulos do agronegócio, redução dos riscos da comercialização, aperfeiçoamentos na execução da Política de Garantia de Preços Mínimos e subvenção do governo na compra de contratos de opções pelos produtores em bolsas.
– O que precisamos fazer, e é o que está proposto no plano, é casar os mecanismos de mercado aos mecanismos da política agrícola do governo federal – ressaltou Wedekin.
Ele destaca a importância dos tradicionais mecanismos públicos, como os leilões de Pepro, por exemplo, que servem pra equalizador o preço das mercadorias, mas lembra que eles não são suficientes, porque oneram o Tesouro Nacional e não atendem a todos os produtores. Por outro lado, o mercado dispõe de instrumentos que poderiam ser melhor utilizados, como os contratos de opções, que são negociados no mercado futuro. Um subsídio do governo para os produtores que quiserem investir neste mecanismo seria um bom começo.
– Isso pode juntar a fome com a vontade de comer; favorecer o desenvolvimento do mercado futuro no Brasil, gerar mais liquidez e reduzir os gastos do governo. Então, é algo para se implementar em 10 anos, vamos dizer assim, para que o agricultor tenha acesso mais universal às políticas que reduzam o risco do preço dele.
O jovem produtor rural Hernandes Picoli, que assumiu a fazenda do pai em 2006, na região de Sorriso, em Mato Grosso, não abre mão dos mecanismos de negociação disponíveis hoje no mercado. A soja e o milho que ele produz são negociados no mercado futuro. A compra dos insumos só é feita com base nas informações do mercado.
– A gente está sempre antenado porque, em questão de segundos e horas, você perde um negócio que pode comprometer até a sua lucratividade. Então, a gente tem que buscar informações a todo momento, não é porque estamos aqui na fazenda que a gente tem que deixar de lado a parte de informação e, principalmente, a parte de mercado – afirma o produtor.
Wedekin ainda lembra que é papel do governo levar conhecimento do mercado para os produtores. É a ferramenta básica para a tão comentada gestão comercial.
– O produtor hoje é bastante, vamos dizer assim, capacitado para conduzir as suas técnicas de produção, a gestão dentro da propriedade rural. É preciso investir um pouco mais nesta comercialização e na gestão financeira do negócio – lembra.
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