Na propriedade do produtor rural Seo Hiroyuki, em Itapetininga, no interior de São Paulo, todas as máquinas agrícolas são novinhas. O produtor rural comprou três tratores, uma plantadeira, uma semeadeira, um pulverizador e um caminhão em 2013. Tudo isso para as plantações de soja e milho da propriedade com 1,4 mil hectares. O valor gasto foi de pouco mais de R$ 1,5 milhão. A quantia é alta, mas o produtor conta que, pela primeira vez, está conseguindo pagar em parcelas que cabem no bolso.
– Foi interessante porque são juros aí que a gente esperava pagar. Juros com menos de dois dígitos. Isso pra mim é novidade. Dá otimismo. Perspectiva de a gente ter liquidez para poder pagar. Isso é importante falar. A gente tenta comprar máquinas de maior porte no intuito de ter melhor qualidade e agilidade para ajudar nas tarefas na questão operacional – afirma Hiroyuki.
O produtor rural está pagando apenas 5% de juros e por isso resolveu investir. Ele procurou o Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI), que começou em 2009, com juros subsidiados pelo governo federal. O programa foi estendido até o fim deste ano e serviu para aumentar a competitividade das empresas.
– Esse ano vai ser recorde histórico de máquinas agrícolas, puxado principalmente por colheitadeiras. Com as máquinas agrícolas devemos crescer 18% a 19%, chegando a 83 mil máquinas. Isso é mais que 2010, 2011, 2012 e mais até que 1976, quando houve vários incentivos do governo com relação ao Centro-Oeste, quando estava abrindo o Centro-Oeste. Mas nessa época era uma questão geopolítica. Hoje, a venda de máquinas agrícolas está relacionada com produção, naquele momento era ocupação – conta o vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Milton Rego.
Para o ano que vem, a Anfavea está prevendo mais avanços. O mercado está acompanhando o ritmo do crescimento de culturas como soja e milho.
– A expectativa é de que a rentabilidade seja positiva em quase todas as regiões e praticamente em quase todas as culturas. O que sugere que as máquinas agrícolas vão continuar com aumento. Certamente esse aumento chinês de 19% que tivemos esse ano não vai se repetir. Tudo deu certo este ano, tivemos aumento bruto da produção perto de 20%; dois anos consecutivos que continuamos aumentando. Então, a expectativa é de um aumento pequeno em 2014, mas um aumento sustentável e condizente – relata Rego.
Com os bons resultados obtidos pelas máquinas, outros insumos também se beneficiaram. Só a fábrica Bridgestone, de Santo André, na Grande São Paulo, produz por dia 30 pneus do tipo AGR, voltados ao setor agrícola. O diretor da empresa quer aumentar a área de produção, e espera até 2015 produzir 60 pneus deste tipo por dia. O dobro, em dois anos. O investimento para expansão vai ser de mais de R$ 33 milhões.
– A gente está percebendo que o mercado está bem aquecido no segmento agrícola. Existe também uma necessidade de ganhar produtividade no campo. Então, estamos olhando tanto para o crescimento dos equipamentos, quanto para essa produtividade no campo. Isso vai gerar um aumento significativo das máquinas e implementos agrícolas e, consequentemente, um aumento do número de pneus – disse o diretor comercial da Bridgestone, Marcos Aoki.
As compras de agroquímicos também dispararam. Só no primeiro semestre deste ano, o Brasil importou 9,6 milhões de toneladas de defensivos e fertilizantes, 23% a mais do que no mesmo período do ano passado. A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) liderou a demanda, seguida pelos Estados de São Paulo e Paraná.
– Segundo estimativas da GO associados, o pessoal está estimando para 2013 em torno de 30,5 milhões de toneladas de entrega de fertilizantes. Se esse número se concretizar, nós vamos fechar com uma terceira quebra de recorde de volumes de entrega do setor. É um número positivo já que em relação a 2012, quando nós entregamos 29,5 milhões de toneladas. Vamos entregar quase 1 milhão de toneladas a mais – ressalta o diretor executivo da Anda, David Roquete Filho.
Para regular esse mercado, o governo federal criou algumas regras para a venda de fertilizantes. Em Mato Grosso, o maior consumidor de insumos no país, as propostas do Ministério da Agricultura (Mapa) preocupam os produtores. O empresário Sérgio Norton de Oliveira recebe e mistura fertilizantes para um grupo de produtores do sul do Estado. O Mapa faz vistorias constantes no local e exige melhorias como a concretagem do piso para armazenamento dos produtos.
– Eles vêm de três em três meses, mexem em tudo, olham tudo. E são bem exigentes. São bem exigentes – conta Oliveira.
No segundo semestre do ano, o governo federal liberou a importação emergencial de produtos que contenham benzoato de emamectina na fórmula, para controle da lagarta Helicoverpa armigera. O Oeste da Bahia foi o primeiro local declarado em estado de emergência fitossanitária. Na sequência vieram os Estados de Mato Grosso, Piauí e Goiás, algumas cidades de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, que também conseguiram a liberação para compra temporária de agroquímicos não registrados no país.
O produtor Hiroyuki está preocupado com uma das maiores pragas já enfrentadas por produtores rurais brasileiros. A helicoverpa ainda não dominou as plantações do Centro-Sul, mas ele teme que a lagarta chegue e acabe com tudo.
O produtor resolveu se precaver diante de um possível ataque da praga. Ele comprou um estoque inteiro de defensivos agrícolas com medo de faltar esses produtos no mercado. O que ele tem hoje é o suficiente para até o fim da safra.
– Sobre essa questão de inseticidas para controle de helicoverpa, a gente procurou se precaver numa possível falta ou limitação de achar o produto. E quando o produto não está plenamente disponível no mercado, a gente sabe que também fica mais caro – explica Hiroyuki.
– Terminamos 2013 e o inseticida terminou a frente dos herbicidas e dos fungicidas. Porque, efetivamente, a helicoverpa requer um esforço maior. A burocracia foi muito pior que a helicoverpa, na tentativa de se trazer produtos emergenciais. Há um desequilíbrio entre as pragas e elas ganharam proporções – afirma o diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher.
Apesar dos problemas com a lagarta, o Brasil espera uma safra recorde em 2014 e a redução dos problemas enfrentados no ano de 2013 – as pragas e a logística deficiente. Para quem está na área há muito tempo, 2014 pode não ser dos melhores anos.
– Se você pedir uma palavra para definir 2014, eu digo cautela. Em 2013 nós entramos com mais confiança. Estamos terminando um ano excepcional. Nada demonstra, pelos preços das commodities, que vamos ter um 2014 fenomenal. Nós teremos, em economia, um crescimento vegetativo. Vamos acompanhar o “pibinho” brasileiro. Não vamos conseguir arrastar com o agronegócio preços mais elevados – ressalta Daher.
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