A iniciativa de se estabelecer uma área diferenciada partiu da Associação dos Produtores de Café da Mantiqueira (Aprocam), que levou em conta a tradição e os excelentes resultados obtidos nos últimos anos pelos produtores da região em concursos de qualidade.
Este ano, por exemplo, o produtor Cláudio Carneiro Pinto, de Carmo de Minas, na microrregião da Mantiqueira, foi campeão do concurso da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). Ele vendeu em leilão a saca de 60 kg por cerca de R$ 5.400,00. O café convencional está cotado atualmente em cerca de R$ 540 a saca.
O selo trará vários benefícios, comenta o presidente da Aprocam, Hélcio Carneiro Pinto, tais como proteção e reconhecimento da microrregião, agregação de valor ao produto, desenvolvimento sustentável, visando a uma melhor remuneração aos produtores.
? O próximo passo é operacionalizar a conquista, trabalhando uma marca para a região, o que será feito com o apoio do Sebrae ? informou ele. As vantagens extrapolam a zona rural. A infraestrutura tende a melhorar, principalmente para acolher atividades de turismo.
Carneiro Pinto comenta que a ideia é já nesta safra de café, que começa a ser colhida, a conquista de IP seja levada em conta como fator de agregação de valor ao produto.
? Se não agregarmos valor, a cafeicultura da região corre risco de extinção, pois dependemos 100% de mão de obra para colheita, que está muito cara ? afirmou.
Segundo ele, não é possível mecanizar a colheita na região por causa do revelo. As lavouras estão instaladas em altitude que variam de 1,1 mil a 1,5 mil metros.
Estima-se que o preço da saca de café especial da região pode alcançar ágio de 25% até 50% no mercado.
? Mas tudo depende de o produtor realizar a colheita e fazer os procedimentos corretos no pós-colheita, para obter produto de qualidade. Anteriormente, a falta de conhecimento comprometia a qualidade do produto final ? explica Carneiro Pinto.
A Aprocam começou os trabalhos para a conquista de um diferencial para a produção de cafés em 2000. Em 2006 foi formalizado ao governo mineiro o pedido de demarcação da microrregião. No ano seguinte, o processo chegou ao Inpi com pedido de análise de IP, que agora foi deferido.
Os produtores almejam agora obter para a região o registro de “Denominação de Origem Reconhecida”. O reconhecimento como zona diferenciada de produção de cafés finos e únicos no mundo garantiria à Serra da Mantiqueira uma distinção semelhante à região de Champanhe, na França, inigualável por causa do tipo e qualidade das uvas.
? Esse é um processo que exigirá mais trabalho, com maior detalhamento e estudos científicos ? pondera Carneiro Pinto. Ele acredita que o registro pode ser alcançado daqui a pelo menos dois anos.
A área com IP está dentro do entorno denominado Circuito das Águas, compreendendo 22 municípios mineiros, com cerca de 8 mil produtores, dos quais 80% são agricultores familiares. Eles cultivam perto de 50 mil hectares de café, de onde saem por ano, em média, 1 milhão de sacas do produto, proporcionando aproximadamente 150 mil empregos diretos e indiretos.