>> Área plantada de algodão deve aumentar em 20% na safra 2013/2014
No começo de 2013, as expectativas para a safra de algodão não eram altas. O setor sofria a queda nos preços provocada pelos elevados estoques mundiais. O Brasil registrou uma redução de 31% na produção. Na área plantada, a cultura perdeu espaço para os grãos, principalmente a soja.
– Nós tivemos uma produção um pouco menor do que o previsto, tivemos uma queda de área, na safra 2012/2013 nem tanto por uma queda de preço do algodão, mas pela produtividade da soja que tinha preços atrativos ao produtor de algodão – afirma Haroldo Cunha, presidente do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA).
Na fazenda de Dalmo Sávio Martins, na safra 2012/2013, o tamanho da área de cultivo do algodão caiu pela metade: passou de 800 para 400 hectares. A produtividade também foi menor do que na safra anterior, cerca de quatro toneladas por hectare. O uso excessivo de defensivos agrícolas para combater pragas como a Helicoverpa armigera elevou os custos de produção, chegando aos R$ 5,8 mil por hectare.
– No final da cultura nós tivemos um aumento no custo de produção, sobretudo pela maior incidência da helicoverpa, e também uma maior ressurgência do bicudo. O dano foi maior no ponteiro da lavoura, a gente tinha uma perspectiva de um melhor aproveitamento dos ponteiros e, infelizmente, houve uma perda considerável de maçãs pelo ataque, embora tardio, da helicoverpa.
Prejuízos com as pragas
Para o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), Gilson Pinesso, os produtos disponíveis no Brasil para combater as pragas não eram de todo eficiente.
– Desenvolvemos um trabalho muito grande junto ao Mapa pra tentar importar produtos novos, mas, infelizmente, isso demorou e não houve tempo, nós tivemos que combater a praga com aquilo que nós tínhamos disponível. Isso trouxe prejuízo e perdas aos produtores.
A Helicoverpa armigera foi a grande vilã da última safra de algodão. A lagarta, que ainda era pouco conhecida no Brasil, devastou as plantações do oeste da Bahia, Estado responsável por 30% da produção nacional. Os prejuízos somaram R$ 2 bilhões. Com a gravidade da situação, depois de muitas negociações, em novembro, o governo federal declarou status de emergência para a região baiana, liberando a importação do defensivo benzoato de emamectina.
– O governo tem tido uma ação muito lenta, tanto na adoção dessa emergência fitossanitária, como medidas que podem ajudar o produtor, como, por exemplo, a importação de produtos que são usados no mundo inteiro e poderiam ter um controle maior da lagarta. A nossa preocupação é quanto à liberação desse produto – ressalta o presidente do IBA.
Câmbio favoreceu venda antecipada
Diante da crise, um alento: a baixa produtividade de 2013 refletiu positivamente no valor do produto, que durante toda a safra ficou acima de R$ 2 a libra peso. E quem se antecipou, conseguiu gerar lucro.
– Ele continuou na cadência que vinha na safra passada e atendeu à expectativa nossa. Aquele algodão que a gente fez a venda antecipada em dólar, hoje, pela variação do dólar maior, deu uma remuneração melhor – comemora Dalmo Martins.
– Nós tivemos uma desvalorização do Real frente ao Dólar e isso elevou os preços do algodão. O mercado interno também tem ajudado pela demanda da indústria nacional – afirma o presidente da Abapa.
Expectativas para 2014
Mesmo com a ameaça da Helicoverpa armigera, para 2014 a expectativa é de crescimento. Em todo o Brasil, a área plantada foi ampliada em 20% e a safra deve saltar de 1,2 milhão de toneladas para 1,5 milhão de toneladas de algodão.
– Para 2014, já se espera uma normalidade na Bahia, que teve dois anos de seca. A gente imagina que isso não vai acontecer no ano a seguir, e a helicoverpa já entra um pouco mais preparada em termos de como controlar essa praga. Nós acreditamos que não vai se repetir a frustração – projeta o presidente do IBA.
O combate às pragas deve elevar o custo de produção para R$ 6 mil por hectare. Já o mercado e os preços devem manter os mesmos níveis de 2013.
– A expectativa é que os preços se mantenham próximos do que foi no ano anterior. Eu já vendi 70% da produção e o nosso preço ficou em torno de R$ 63, uma parte em dólar, pode ser que a gente tenha um ganho – afirma o produtor Dalmo Martins.
– Muitos produtores, muitos contratos foram feitos nesse ano de 2013. Boa parte desse algodão que esta sendo plantado já está comercializado no mercado internacional com preços competitivos – garante o presidente da Abrapa.
Para 2014, os produtores de algodão brasileiros também esperam uma resolução para a disputa com os Estados Unidos pelo cumprimento do acordo do contencioso do algodão. Desde setembro, quando venceu a lei agrícola americana, os Estados Unidos estão descumprindo o acordo feito na Organização Mundial do Comércio (OMC) e não têm efetuado o pagamento de R$ 12 milhões mensais ao Brasil. As parcelas foram instituídas pela OMC para compensar as perdas dos produtores brasileiros, decorrentes dos subsídios oferecidos pelo governo dos Estados Unidos aos agricultores norte-americanos.
Após adiar diversas vezes uma decisão para o impasse, no dia 18 de dezembro, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) se reuniu mais uma vez e optou por não retaliar. O ano termina com a formação de um grupo de trabalho, que deve começar a fazer consultas públicas sobre o tema já em janeiro.
– O grupo de trabalho vai dar uma posição no momento correto, que deve ocorrer no princípio de fevereiro. Nós temos que fazer todo um estudo, não podemos fazer essa retaliação. Informamos a eles que estamos atentos e queremos ver o que será feito em relação ao algodão. O grupo de trabalho está conversando com os americanos no sentido de resolver essa situação – garante o ministro da Agricultura, Antônio Andrade.
A conclusão desagradou o setor, que esperava uma posição mais firme do governo brasileiro.
– Consultas já foram feitas muitas. O governo e a Camex já tiveram a oportunidade de ouvir vários setores que vão ser de alguma forma afetados pela decisão de retaliar ou não retaliar. Então, a consulta pública me parece um pouco para ganhar tempo – afirma o consultor da Abrapa Hélio Tollini.
– Tira um pouco da pressão que poderia ser feita nos EUA na busca de uma solução. O setor fica um pouco desacreditado de como esse assunto vai se encerrar. Porque, se os EUA não forem pressionados e promulgarem uma lei agrícola que não atenda as determinações da OMC, qual vai ser a reação do Brasil? – questiona o presidente do IBA, Haroldo Conha.
– As propostas que estão no Senado e na Câmara são muito semelhantes e elas vão causar muito prejuízo para a renda dos produtores do algodão, para o PIB brasileiro. O Brasil tem duas opções: ou retaliar ou ficar com o sorriso amarelo. Porque o mundo todo acompanhou o trabalho do Brasil no contencioso do algodão e reconheceu a competência do país em fazer esse contencioso. Não fazer nada agora não é opção para um país como o Brasil – completa o consultor da Abrapa Hélio Tollini.