Setor produtivo do trigo reclama do incentivo do governo à importação do grão

País importou mais de sete milhões de toneladas de trigo na safra 2012/2013O Brasil importou mais de sete milhões de toneladas de trigo na safra 2012/2013. Cada vez mais o governo federal tem incentivado a compra do produto de outros países. Recentemente, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) zerou o imposto de importação e aumentou a cota para a aquisição do grão vendido fora do Mercosul.

Segundo o gerente de suplementos de trigo do Moinho Anaconda, Nelson Montagna, o setor vive um momento de crise.
 
– Tínhamos uma expectativa de aumento de produção, os primeiros relatórios saíram acima de 5,5 milhões de toneladas para safra 2013. Mas tivemos uma varredura climática, uma frente varrendo desde o Paraguai, que entrou pelo Paraná, primeiro pelo norte, depois oeste e sudoeste – disse Montagna.
 
O clima frustrou os planos de muitos produtores e fez com que o trigo fechasse a safra 2012/2013 com uma produtividade abaixo da esperada, pouco mais de quatro milhões de toneladas. O Paraná, maior produtor do grão, foi muito prejudicado, com queda de 33% no volume colhido. A qualidade do grão também caiu. Somente 20% vai poder ser usado na produção de farinha. A quebra da safra dobrou o nível de ociosidade dos moinhos da região de 20% para 40%.

Para tentar contornar o problema, a Camex estendeu até 30 de novembro a tarifa zero para importação do grão de países que não fazem parte do Mercosul. O secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Marcelo Junqueira Ferraz, explica que também foi estabelecida uma cota adicional de 400 mil toneladas, somando 2.600 milhões toneladas de trigo.
 
– Isso visa garantir o abastecimento interno que poderia estar comprometido em fase de geadas muito intensas, principalmente no norte do Paraná. O Mapa está monitorando e os outros órgãos do governo. E mais pra frente faremos nova avaliação – explica.
 
A doutora em direito tributário, Lenine Angelotti Meira, também acredita que o setor está em crise.

– Essa medida da Camex é comum acontecer na entressafra, mas normalmente na safra não há necessidade. Isso revela uma dificuldade. O nosso preço é alto. A gente tinha dificuldade de competir com a Argentina e, agora, com a abertura provavelmente com outros países. Isso é resultado das nossas dificuldades de infraestrutura. Em termos de logística, muitas vezes, é mais fácil importar do que ter esse escoamento com a nossa infraestrutura difícil – ressalta.
 
– Já vínhamos numa situação de estoque baixo. O governo esteve leiloando todos os seus estoques. Zerou os estoques para abastecer o mercado. A safra está entrando agora, aos poucos, com menos de um milhão de toneladas. A Argentina só tem trigo em dezembro, se eles resolverem abrir as exportações – disse Montagna.
 
– Abrindo as nossas fronteiras, baixando a tarifa de importação, esse preço cai e é bem provável que o produtor fique numa situação deficitária ou não tenha o retorno esperado – destaca Lenize.
 
Na safra 2012/2013, o Brasil importou mais de sete milhões de toneladas de trigo, que representam a saída de US$ 2,200 bilhões do país. Para a próxima, a expectativa é que pelo menos seis milhões de toneladas sejam compradas.
 
A Federação da Agricultura do Paraná e a organização das cooperativas do Estado pediram oficialmente a revogação da resolução da Camex. As instituições alegam que a medida prejudica os triticultores do Estado.

Incentivo promete alavancar setor no RS

No Rio Grande do Sul, um conjunto de políticas de incentivo ao trigo promete alavancar a cadeia produtiva do setor. A meta é dobrar a produção gaúcha, que, hoje, corresponde a pouco mais de um quarto do volume nacional.

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Para a próxima safra, R$ 400 milhões serão disponibilizados para o financiamento de cooperativas, moinhos e cerealistas. A medida pretende facilitar a aquisição do trigo e aumentar a produção no Estado. 
 
O secretário adjunto de Agricultura do Rio Grande do Sul, Cláudio Fioreze, conta que os créditos vão ter valores diversos e juros de 5,5% ao ano. Os interessados já podem procurar as agências das instituições financeiras para contratação do financiamento. Os valores vão ser  liberados no período da colheita, a partir de outubro.

– Essas medidas visam evitar o famoso “passeio” do trigo que produzimos 2,5 milhões de toneladas, consumidos 1,1 milhão, e ainda assim, o trigo vai pra outros Estados e depois nós compramos de volta. Essas medidas serão para o sentindo dos produtores terem um capital de giro na safra. E, em novembro, segurar e só ir liberando à medida que for necessário – ressalta.

Fioreze destaca que o governo federal também deve ajudar nas políticas de incentivo da cultura. 
 
– O governo deve lançar um contrato de opção de vendas agora na colheita. E em novembro, para ser realizado em abril e maio – disse.
 
O superintendente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro), Tarcisio Minetto, explica que a estocagem da safra deve ser modificada e vai beneficiar o setor. A Fecoagro prevê que, com a aprovação do crédito, a indústria poderá comprar 750 mil toneladas do trigo.  
 
O diretor da Federação dos Trabalhadores Agricultura do Estado, Sérgio de Miranda, acredita que o aporte financeiro também deve ajudar os triticultores com venda e escoamento da produção. A Companhia de Silos e Armazéns também vai oferecer estruturas para armazenagem de até 200 mil toneladas de grãos para as principais regiões produtoras.

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