– Tudo o que estava aplicado na indústria sucroenergética precisou ser pago e, de repente, houve uma estagnação de todo o setor. Nós temos hoje 40 indústrias paradas no país e mais de 47 com situação financeira quase em regime falimentar. O pior dessa situação toda é que são nessas usinas que estão os nossos fornecedores independentes de cana de açúcar e, em muitas delas, eles estão sem receber – explica Paulo Sérgio Leal, presidente da Federação de Plantadores de Cana do Brasil.
No início de setembro, produtores encaminharam à Casa Civil um documento com nove sugestões que ajudariam a solucionar o problema. Entre elas, destacam-se os pedidos de redução da contribuição previdenciária sobre a produção e diminuição de Pis Cofins sobre os fertilizantes. O governo federal não parece disposto a reduzir os tributos, mas oferece empréstimos de mais de R$ 2 bilhões para a renovação dos canaviais.
– Quando você não renova e a renovação deve estar entre cinco e seis anos, no máximo, mas está passando disso por problema de finanças do agricultor, a produtividade da cana é reduzida. É renovação dos canaviais e, onde houver ociosidade, ampliação da capacidade instalada – afirma o secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Gerardo Fontenelles.
Augusto Brasil, professor de Engenharia de Energia da Universidade de Brasília, afirma que a relação do governo com os produtores vem mudando ao longo dos anos. Ele lembra que na década de 1970, quando foi feita a implementação do pró-álcool, por exemplo, os produtores contaram com forte apoio.
– Nós temos hoje o álcool combustível por um forte subsídio do governo historicamente. O governo incentivou a produção de carros a álcool, incentivou a compra de carros a álcool, incentivou a plantação e a produção de álcool. Ao longo da história, o governo foi mudando o tipo de incentivo a esse combustível e foi deixando que o mercado ficasse um mercado mais livre, um mercado com as relações de mercado de um produto como outro qualquer.
Diante desse contexto, Paulo Sérgio Leal reclama da diferença de tratamento dado à gasolina, combustível concorrente do etanol.
– Durante esses quatro anos, o governo congelou o preço da gasolina. Isso é uma política para a questão da inflação. O nosso custo de produção nesses quatro anos cresceu de 25% a 30%. Ficar concorrendo com um produto que está congelado contra o etanol, que tem esses custos todos aumentando, é muito difícil.
No próximo dia 23, representantes de associações e de entidades de classe ligadas à produção de cana de açúcar devem se reunir em Brasília para discutir os problemas do setor.
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