No Estado de São Paulo, um dos principais pólos de silvicultura está na cidade de Bragança Paulista, quase da divisa com Minas Gerais. É onde vive o luthier Paulo Ramos. Restaurador e fabricante de contrabaixos acústicos, ele conta que usa pinus europeu, que agrega mais valor aos produtos.
? Um instrumento feito com as madeiras nacionais não tem o valor de revenda que tem o feito com as tradicionais. Este instrumento que vocês viram, que vai para o Canadá, é vendido lá a peso de dólar, peso de euro. Então, o dono gasta um pouco mais, mas ele tem nas mãos também um instrumento de, vamos dizer, um capital.
“Seo” Paulo, como é conhecido, além de ser um dos poucos luthier do Brasil, é um dos muitos silvicultores de Bragança. Cultivou as primeiras mudas de eucalipto há um ano e se prepara para chegar a 13 hectares plantados nos próximos três anos.
? A gente sabe que ao fim dos cinco, seis anos, sete, depende. A gente tem um retorno daquilo que investiu. Então é por isso que é chamada de poupança verde.
O lugar contribui. Em Bragança, a topografia é uma espécie de incentivo à silvicultura. A atividade vai bem em áreas acidentadas, porque não precisa de mecanização.
Este potencial inclusive foi usado como fator pra desenvolver aqui o programa microbacias, muito comum em outros municípios no Brasil. E aí a silvicultura entra como uma das atividades do programa.
O microbacias prevê o uso sustentável das propriedades nestas regiões, como plantio adequado pra cada lugar, recuperação de áreas, preservação melhor qualidade de vida para os agricultores. O agrônomo Paulo Acedo é um dos que trabalha com os produtores neste projeto.
? Dentro do projeto microbacias existem vários incentivos. Um deles é o uso de calcário, o uso de equipamentos comunitários que os proprietários podem adquirir junto. Então este é um trabalho grande. Também de preservação. E isso faz com que a gente faça toda uma instrução e preservação também. Existem cercas pra proteção de mananciais e tudo isso. O projeto é bastante amplo.
Tradição e modernidade
A silvicultura é tradicional na região há pelo menos 50 anos. Inicialmente, era usada para ocupar áreas difíceis. Atualmente, passa por uma fase de profissionalização e de aprimoramento tecnológico, como explica o agrônomo Paulo Acedo.
? O produtor opta pelo preparo do solo, adubação de toda a área, tratando o eucalipto como uma cultura igual às outras. Anteriormente, não se fazia nada. Plantava-se simplesmente. E na sua condução há também uma diferença.
O manejo também mudou, de acordo com Acedo.
? Antigamente, e ainda algumas pessoas, mantém a rebrota, deixando uma ou duas ou três rebrotas para o reaproveitamento. Hoje faz-se a técnica de eliminação destas rebrotas matando o broto e plantando uma nova cultura entre eles, e isso vai dar um maior rendimento e maior produtividade.
A produtividade aparece em números. Segundo a Sociedade Brasileira de Silvicultura só no ano passado foram plantados no país 600 mil hectares de árvores. Boa parte por produtores rurais, como os de Bragança e também por empresas de celulose e papel e pela indústria siderúrgica.
O especialista em silvicultura José Carlos Bacha destaca o retorno do negócio.
? São 5,4 milhões de hectares. Nos anos 90, houve queda na área. Estamos colhendo agora o que plantamos nos anos 90. Assim, de 2002 a 2008, o preço da madeira subiu três a quatro vezes a taxa de inflação, então está muito lucrativo. A taxa de retorno, incluindo compra de mudas e aluguel de terra, é de 20%.
Minas Gerais é o primeiro Estado brasileiro em área de reflorestamento, seguido por São Paulo. Só em Bragança Paulista, principal pólo de produção, 6 mil hectares de plantio.
Segundo cálculos do diretor da Cati, a Coordenadoria de Assistência Técnica Integrada do município, Alcides Almeida Júnior a atividade gera 20 milhões de reais por ano para a economia da região. Números importantes, considerando que a silvicultura aqui, de forma profissionalizada está só no começo.
? Estamos em contato com indústrias que têm interesse na região para fechar um projeto chamado poupança florestal. O produtor fechará todo o ciclo. Terá desde assistência técnica até a comercialização garantida da sua madeira. Temos certeza absoluta de que o reflorestamento veio pra ficar e a tendência é dele crescer cada vez mais.