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Soja Brasil

Soja: grade não é a solução quando falta umidade para controlar plantas daninhas

Pesquisador da Embrapa enumera muitos pontos negativos que a prática de limpar a área pode levar. “Investimento em sementes, tratamento e inoculação jogados fora!”

Área gradeada no Paraguai já está com soja plantada

A falta de chuvas está realmente atrapalhando os sojicultores nesta safra. Alguns nem sequer estão com as áreas prontas para plantar a soja, já que a falta de umidade também impede a aplicação de herbicidas para controle das plantas daninhas. A solução que alguns encontraram foi passar a grade em toda a área, retirando não só as ervas invasoras, mas também toda a palhada de cobertura do solo. Com isso, segundo a Embrapa, o problema inicial se torna algo muito maior e gera grande poder de prejuízos.

As fotos que ilustram essa reportagem são desta safra, uma veio do Paraná e a outra do Paraguai. Em comum, elas apresentam uma terra descoberta, que deve ou já receberam as sementes de soja. A história não é nova, todos os anos ela se repete, principalmente entre os produtores que querem semear a qualquer custo, em busca de uma janela boa para a segunda safra ou cumprir contratos de entrega de soja.

“Esse é um problema recorrente no Brasil. Até porque muitas vezes o atraso nas chuvas deixa alguns produtores preocupados com a programação que havia feito. Por isso, alguns arriscam plantando no pó ou mesmo passando a grade para eliminar as plantas daninhas. Mas essas são soluções parciais que acabam trazendo problemas bem maiores”, afirma o pesquisador da Embrapa, Osmar Conte.

Segundo ele, escolher a gradagem da área para eliminar as plantas daninhas é uma decisão bastante perigosa. A falta de umidade para fazer essa dessecação, aliada a falta de tempo para fazer duas safras e também diminuição dos gastos para controle das invasoras são algumas das razões dadas para justificar a escolha.

“Quando se faz essa escolha (gradagem) o produtor abre mão de uma série de benefícios. Um deles é que, com a falta de palha, o solo perde mais facilmente a umidade. A falta de cobertura também pode trazer problemas de erosão quando as chuvas chegarem. No solo descoberto, as temperaturas ficam mais elevadas e podem chegar facilmente aos 60 °C em alguns locais, reduzindo o vigor das sementes que forem colocadas e, praticamente inutilizando toda a inoculação realizada”, diz Conte.

Produtor do Paraná gradeando a terra

Outro problema é a perda por oxidação da matéria orgânica da superfície do solo. “Os resíduos que ali estão sofrerão uma oxidação acelerada. Assim como o carbono (matéria orgânica) que já está estabilizado no solo. Há perdas grandes de carbono, o que não é desejável, pois é preciso muitos anos para se formar as matérias orgânicas do solo e isso pode colocar tudo a perder”, afirma o pesquisador.

Se a ideia inicial era resolver o problema com as ervas daninhas, a gradagem pode parecer uma resolução certa, mas na verdade aumenta o problema.

“Essa área terá aumento das plantas daninhas. Pois esse solo exposto, gera condições melhores para a germinação dessas invasoras”, afirma.

A compactação do solo é outro fator problemático, pois não só a plantadeira, mas os pulverizadores e colheitadeiras passarão na área mobilizada, tornando-a mais vulnerável a compactação. O pesquisador ainda destaca problemas secundários comuns a acontecerem em quem opta pela gradagem.

“Quando o produtor usa um equipamento para preparo do solo, acaba espalhando doenças e pragas pela área, como os nematoides. A terra presa na máquina acaba espalhando esses organismos. Quando se gradeia um solo já praticamente seco, os poucos microrganismos que restam tendem ser dizimados e isso diminui drasticamente a atividade microbiológico do solo”, afirma.

Solução é esperar

A melhor maneira de agir em casos como este, no qual a umidade não é suficiente para dessecar a área, é esperar.

“Não existe mágica. O produtor que quer manter sua área produtiva e protegida deve esperar as chuvas, para somente então dessecar e controlar as invasoras e somente então plantar. O clima é assim, pode complicar alguns planejamentos. Agora cada produtor sabe onde o calo aperta, se para ele vale fazer a escolha para viabilizar a segunda safra, ou reduzir o custo com controle das plantas daninhas. É uma escolha dele. Mas há muitos malefícios não só para essa primeira safra, mas para o solo e também para as safras seguintes”, afirma o pesquisador.

Segundo o pesquisador, optar por esse gradeamento é piorar a situação e a pesquisa não indica esse manejo para situações como essa. Ou seja, se faltar umidade para dessecar a área e posteriormente plantar, o produtor deve esperar.

“Essa saída é a pior escolha de todas, pois irá piorar muito tudo que virá pela frente. Se para piorar o produtor ainda escolher plantar a soja com o solo pouco úmido ou no pó, aí ele terá uma certeza: prejuízo certo. Todo o investimento em sementes, inoculação, tratamento de sementes, foi tudo jogado fora, pois o solo descoberto compromete tudo isso. Essa plantação já parte de uma perspectiva de pouca produção. Então se o produtor quer que eu investimento se mantenha, espere a umidade”, finaliza Conte.

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