Analistas explicam que os estoques mundiais estão em nível recorde e outros fatores que favoreceram o Brasil no ciclo anterior não se repetem neste
José Florentino, de São Paulo
A Safras & Mercado estima que a temporada 2018/2019 da soja totalize 115,7 milhões de toneladas, mas o analista Gil Barabach afirma que a tendência é de mais baixas. “No Norte e Nordeste — Matopiba — ainda tem uma plantação muito grande. E o El Niño é ruim para eles, o que pode ampliar a quebra”, diz.
De acordo com o diretor da consultoria ARC Mercosul, Matheus Pereira, a temporada pode perder mais sete milhões de toneladas até que o clima fique ideal.
Mas, segundo Barabach, as chances desta quebra impulsionar os preços da soja não são tão grandes. “No ano passado, a safra da Argentina quebrou 20 milhões e a Bolsa de Chicago reagiu pouco. Mesmo que a nossa quebra chegasse a 20 milhões, manteríamos o volume da América do Sul no mesmo patamar”. Pereira corrobora ao afirmar que os estoques mundiais são estimados em 110 milhões de toneladas, o maior número da história.
Barabach não descarta elevações nos preços, mas alerta: “Eles podem subir e bater nos US$ 10 por bushel, mas não têm consistência nesse patamar”, diz.
2017/2018 X 2018/2019
O mercado conspirou em favor da soja brasileira no ciclo anterior, afirma Barabach. “Quebra da Argentina, dólar indo a R$ 4,20 no calor da eleição e a guerra comercial, que trouxe demanda para cá e fez o prêmio disparar”, diz.
Este ano, a moeda norte-americana tem viés baixista, podendo chegar aos R$ 3,60. “O que deve se confirmar com a aprovação da reforma da Previdência”, conta o analista.
O conflito entre Estados Unidos e China deve ser finalizado com acordo entre as duas potências. “Caso aconteça, naturalmente, o país asiático vai comprar dos americanos no segundo semestre”, defende.
“São janelas de oportunidades menores, então o produtor precisa aproveitar”, conclui o especialista.