Produtores que plantaram a soja antes da regularidade das chuvas, começam a passar o arado e tentar pelo menos pagar os custos extras com o replantio
Pedro Silvestre, de Nova Mutum (MT)
O plantio de soja está atrasado em boa parte das áreas produtoras de Mato Grosso. Por causa do baixo volume de chuvas em outubro, muitos hectares que já tinham recebido as sementes estão sendo replantados.
Com a chegada da chuva,o produtor Fernando Ferri acelerou o ritmo do trabalho para tentar concluir o plantio da soja. Até o momento, 80% dos 1 mil hectares foram semeados. Ainda assim, o trabalho continua atrasado em relação à safra passada.
“Tradicionalmente aqui começa a chover na segunda quinzena de setembro. Então o plantio começa com base nas previsões climáticas. Este ano não foi diferente e a gente também resolveu arriscar baseados na previsão que tinha chuva no dia 2 de outubro. Isso não se concretizou, a chuva até veio, mas fraca, e muitas áreas entraram em processo de germinação. Depois cortou as chuvas por mais vinte dias”, conta Ferri.
Com as plantas recém germinadas, passar tanto tempo sem água trouxe prejuízos, e a estimativa é que o replantio por aqui chegue a 8% da área.
“Teremos um prejuízo na casa de R$ 500 por hectare, mais ou menos. Pois para replantar teremos que comprar sementes precoces, tratá-las e usar as máquinas novamente. Essa despesa extra sairá do lucro que teríamos no ano que vem, quando venderemos a colheita. Temos contas e investimentos para pagar e esse custo extra apertará a conta”, diz Ferri.
Além da região sul de Mato Grosso, o período de seca também comprometeu a semeadura no norte e médio norte do estado. Entre Nova Mutum e Santa Rita do Trivelato, a estimativa das entidades ligadas ao setor é de que apenas 18% da área destinada a safra de soja tenha sido plantada.
“Realmente existe a possibilidade de replantio em algumas regiões, como aconteceu com Ferri. Isso é muito ruim, porque nesses talhões replantados não há lucro ou rentabilidade. Estamos no limite dos custos de produção, qualquer prejuízo ou replantio é prejuízo certo. O replantio é o pior dos mundos para um produtor”, explica o presidente da Aprosoja-MT, Endrigo Dalcin.
O engenheiro agrônomo que presta consultoria a produtores da região, Naildo Lopes, diz que além dos prejuízos com o replantio, a falta de umidade do solo no último mês pode comprometer a produtividade da safra.
“Outro grande problema desta falta de chuvas e altas temperaturas é que isso interfere na germinação adequada e o desenvolvimento inicial das plantas. O estande de plantas também é afetado, você faz uma cultura tentando ter 250 ou 300 mil plantas por hectare e no final não chega nem a isso. O resultado é uma produtividade menor”, diz Lopes.
Inclusive, um vídeo de uma área de soja não germinada sendo limpa está circulando nas redes sociais. Assista abaixo:
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