Um dos primeiros cuidados que os produtores devem ter após o plantio da soja é realizar um bom monitoramento nas áreas semeadas. De acordo com pesquisador Erlei Reis, professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), essas visitas à lavoura devem ser semanais ou duas vezes por semana durante todo o ciclo da cultura.
E o agricultor tem de entrar na lavoura, mesmo se ela estiver molhada de orvalho, com muito vento ou sol forte. Ali, deve coletar várias plantas e examinar desde o sistema radicular até as folhas, olhando principalmente debaixo das folhas com uma lupa de 20 aumentos para detectar se há manchas.
“Após 30 ou 35 dias de emergência da cultura, mesmo que o agricultor não tenha encontrado foco da doença, é recomendado o uso de fungicidas de forma preventiva”, explica Rafael Pereira, gerente sênior de inovação e desenvolvimento da UPL Brasil. Por recomendação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), essa aplicação deve ser repetida mais duas vezes, a cada 14 dias.
Quanto ao uso de fungicidas, as práticas recomendadas evoluíram muito desde que a doença chegou ao Brasil na safra 2001/02. Portanto é necessário que o agricultor siga as recomendações de órgãos oficiais como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e de especialistas, que atualmente defendem o uso de fungicidas de sítios específicos combinados com fungicidas multissítios.
Ao ser identificada no Brasil, em 2001, a ferrugem-asiática foi controlada inicialmente com a aplicação de fungicidas de sítios específicos, como os triazóis, aplicados primeiramente isolados e depois misturados com as estrobilurinas. No entanto, desde 2008, os produtos isolados não são recomendados em decorrência da menor eficiência. Ocorre que, a partir de 2012/13, o fungo que causa a ferrugem asiática passou a manifestar resistência também às misturas de fungicidas de sítios específicos.
“Mais recentemente foi lançada uma molécula nova [também de sítio específico] chamada carboxamida, que tinha um controle espetacular, mas funcionou apenas por duas safras”, lembra Reis. Ele explica que, toda vez que o produtor aplica um destes três fungicidas isolados ou misturados, ele mata o fungo sensível, mas aumenta a proporção de resistência do fungo resistente.
Depois de estudar a ocorrência de problemas semelhantes nas lavouras de tomate e batata da Inglaterra, o pesquisador Erlei Reis, juntamente com outros colegas, verificou que o uso combinado de fungicidas de sítio específico com fungicidas multissítios possibilitou um amplo controle da doença. “Há mais de 40 anos esse problema está controlado na Inglaterra”, diz o pesquisador.
Portanto, o protocolo mais recomendado atualmente é a combinação de triazóis, estrobilurinas ou carboxamidas com fungicidas multissítios, que agem em seis locais no desenvolvimento do fungo ao mesmo tempo.
“Nós finalmente encontramos a solução, mas ela ainda é pouco usada. É necessário fazer uma ampla recomendação para o produtor rural”, avalia Reis. Na safra 2016/17, dos 33,4 milhões de hectares de soja cultivados, cerca de 19% receberam a aplicação da maneira correta com o multissítio. Apesar de pequena, essa área vem dobrando nas últimas três safras.
Além do monitoramento e da aplicação correta de fungicidas, o produtor também deve respeitar o vazio sanitário, plantar variedades de ciclo curto e no início da época recomendada, e optar por variedades de soja que toleram a ferrugem, recomenda Reis. “É um conjunto de ações que tornará o controle eficaz”, defende o pesquisador.
Oferecimento: