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Soja transgênica elevou produtividade das lavouras do RS no início dos anos 2000

Série especial conta a trajetória dos 10 anos de produção do grão geneticamente modificado no paísA produtividade das lavouras de soja do Rio Grande do Sul teve um aumento considerável após a chegada das sementes transgênicas ao Estado. De acordo com dados da consultoria Safras e Mercado, a produtividade média, antes da implementação, era de 30 sacas por hectare. Em 2001, quando vários produtores já estavam cultivando a soja transgênica, chegou a 40 sacas. Em 2011 pulou para 50 sacas por hectare.

– Com a soja transgênica, tiramos a competitividade das invasoras. A soja, que aqui no Brasil não podíamos mostrar por causa dos fatores de competitividade, manifestou seu potencial de produtividade. Vínhamos de uma média pra conseguir 40 sacos por hectare – explica o produtor rural Almir Rebelo.

> Confira a primeira reportagem da Série Especial sobre os 10 anos de transgênicos no Brasil

Na propriedade do produtor rural Ilton Bolzan, em Tupanciretã (RS), a história da soja transgênica começou em 1997. À beira da falência, Ilton decidiu enfrentar riscos em uma época em que o governo ainda não tinha liberado a entrada da semente no Brasil. Assim como tantos outros agricultores, aderiu à compra da soja contrabandeada da Argentina por atravessadores.

– Eu estava quebrado em 94. Eu estava sorteando a minha propriedade, ia ficar sem nada. Como estava mal, não tinha solução. E a situação foi resolvida com os transgênicos. Encontrávamos com pessoas da beira do rio Uruguai. Sempre tinha como passar e passa até hoje tudo que é contrabando. Na época era fácil passar. Não era liberado pelo governo, então era fria mesmo e como nós não tínhamos outra opção, fazíamos arriscando – conta Ilton.

Para conseguir as sementes geneticamente modificadas, além do risco da prisão e dos processos judiciais, era preciso pagar um preço alto.

– A soja transgênica produzia mais. Ela resolveu o problema das ervas resistentes, não tinha o que fazer. O preço podia ser alto que todo mundo pagava. Custava em torno de R$ 180 a R$ 200. Dependendo da variedade, custava até R$ 220. As pessoas que traziam ganhavam bem por causa do contrabando. A pessoa que traz, nao traz por pouco – fala Ilton.

Aos poucos, burlando a lei, as sacas foram se multiplicando. Segundo Ilton, para os produtores a revenda das sementes começou a ser rentável. Os grãos eram reproduzidos e no próximo ano havia maior quantidade. Assim, não era necessário comprar. A preocupação naquele momento era com as ervas resistentes.

Essa foi a solução para todos os agricultores do Rio Grande do Sul. De acordo com Ilton, a média subiu de 40 sacas por hectare.

– Eu fiquei anos vendendo e não era certo. Era fora da lei, mas os produtores pediam e eu vendia. Vender um pouco de semente foi umas das coisas que me salvou, me fez ganhar um pouco mais. Alguns foram processados, outros a Polícia Federal pegou, então todo mundo trabalhava com medo. Foram anos de muito estresse, mas não tinha solução – explica Ilton.

Segundo o produtor Almir Rebelo, os agricultores precisaram ter muita paciência.

– Vivemos momentos muito tensos, porque o governo veio com a tropa de choque pra cá, não foi pra apazigua não. Eles estavam fortemente armados.

Enquanto a discussão seguia em Brasília, para definir se seria permitido o plantio da soja trangênica, nas lavouras ela já era uma realidade.

– Isso foi crescendo ilegalmente até que assumi, em janeiro de 2003, o Ministério da Agricultura. Havia naquela época 12% de área brasileira transgênica, sendo que grande maioria era no Rio Grande do Sul, um pouco no Paraná e um pouco em Mato Grosso do Sul – conta o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), criada por lei em 1995, começou a se reunir em 1996. Durante dois anos, o orgão elaborou as chamadas resoluções normativas para regulamentar a nova tecnologia no Brasil. Em 1998, a CTNBio aprovou o uso comercial da semente de soja transgenica da multinacional Monsanto, a roundup ready, mais conhecida como RR. Mas a justiça acatou pedido do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), e impediu a união de autorizar o plantio comercial. O Idec conseguiu bloquear o uso da soja transgênica no Brasil até 2003, quando o plantio foi liberado por uma medida provisória do governo.

– O presidente concordou e fizemos uma medida provisória permitindo a comercialização daquela soja, senão ela teria que ser queimada, torrada. Fizemos uma medida provisória com dificuldades, porque dentro do governo havia posições contrárias, mas houve a comercialização e logo em seguida o presidente determinou a criação de um grupo de trabalho de ministros tendo em vista a criação de uma lei pra definir esse assunto. A discussão, no entanto, era tão intensa que a gente não conseguiu fazer a lei antes da safra seguinte. No final de 2003 plantou-se de novo e a soja cresceu acima dos 12% do ano anterior – explica Rodrigues.

A MP 131 foi substituída pela lei 10.814, que estendeu o prazo para comercialização da safra, de 31 de dezembro de 2004 para 31 de janeiro de 2005. Em março de 2005 foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei de Biossegurança, que passou a regulamentar a produção e comercialização de organismos geneticamente modificados. A aprovação representou o fim de uma polêmica que envolveu toda a sociedade brasileira.

– Realmente, esse foi um tema muito complexo. A minha visão é ligada a questão comercial. Como a transgenia da soja foi criada por uma empresa multinacional americana, a Monsanto, muitas empresas europeias, e até americanas concorrentes que perderiam espaço comercial por causa das vantagens que a transgenia oferecia aos produtores rurais, criaram uma reação negativa contra os transgênicos alegando riscos para a segurança alimentar, animal, ambiental. Isso formou uma onda muito forte contra a transgenia dando tempo a essas empresas concorrentes para aprenderem o processo e ficarem numa situação competitiva novamente – afirma Rodrigues.

Segundo Adriana Brondani, do Conselho de Informações sobre Biotecnologia, toda evolução em termos de transgênicos está associada à pesquisa e desenvolvimento.

– No momento em que nós tivemos um produto aprovado e liberado pra cultivo ele foi amplamente estudado. Existem trabalhos que mostram o tempo que se leva pra se desenvolver uma semente geneticamente modificada. Esse tempo é longo. Nós temos uma média de 12, 13 anos de estudo. Então, essa evolução é baseada em estudos científicos. Esse estudo vem contribuindo para o que nós estamos vendo por aí.

>> Veja a primeira reportagem da série: Primeiros grãos de soja transgênica chegaram ao Brasil de forma ilegal na década de 90

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