– Acordo às seis da manhã e chego às 7h15min na escola. Depois vou para o município de Parobé, e não tenho parada ao meio dia. Leciono até as 5h da tarde e volto para Morro Alto, onde temos escola de Educação de Jovens e Adultos. E chego em casa por volta da meia noite. Fora o trabalho que a gente leva para casa – conta Luciana.
Algumas propostas buscam estimular a integração entre professores, alunos e, também, com a comunidade. Criado há sete anos, o projeto de educação ambiental Bios Rural conta com 17 escolas rurais de educação infantil a ensino fundamental do município. As escolas envolvidas potencializam os conhecimentos a partir da interpretação que os alunos têm do seu meio.
O objetivo é recuperar a tradição pedagógica de valorização do campo como princípio educativo, elaborando um projeto que valorize as experiências e estudos direcionados para o desenvolvimento social, economicamente justo e ecologicamente corretos. A coordenadora do Bios Rural, Adriana Jaeger, explica como o projeto está beneficiando alunos e professores.
– Pensamos num projeto que abrangesse todas as problemáticas que temos no campo, como os problemas do lixo, do saneamento básico. Nós formamos grupos de estudos, os professores se comprometeram a mudar a metodologia. E o Bios Rural contribuiu para fortalecer a escola do campo – explica.
O projeto tem o apoio da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag). A coordenadora de Saúde e Educação da Fetag, Lérida Pavanello, acredita que propostas como estas ajudam a valorizar o ofício do trabalhador no campo.
– Estes projetos valorizam o filho e a filha do trabalhador e trabalhadora rural que permanecem no campo, que se dedicam à produção de alimentos. Além disso, fazem com que os agricultores se motivem e se sintam valorizados – afirma Lérida.
Na escola Menino Jesus, os alunos aprenderam a trabalhar com a horta e ajudam a recolher o lixo da comunidade. Além disso, juntam dinheiro para a construção de uma pracinha.
– A gente ajuda a comunidade a juntar o lixo e separar. Assim a gente conscientiza a nossa comunidade para separar o lixo para poder vender e conseguir nossa pracinha – diz a aluna do quarto ano do ensino fundamental, Ana Raquel Klein, de 10 anos.
– Toda quinta-feira a gente tem a horta. E também estamos recolhendo o lixo e estamos vendendo. Já conseguimos mais de R$ 400 para conseguir a pracinha e esse ano a gente vai concluir ela – comemora o aluno do terceiro ano, Anderson Felipe Fischer, também de 10 anos.
Os alunos realizam trabalhos como o plantio de mudas, resgate de brinquedos e brincadeiras antigas, utilizando material reciclável e mostra de trabalhos escolares. As crianças têm oportunidade de apresentar os resultados das suas pesquisas em sala de aula, com a construção e interpretação de texto, através de fantoches confeccionados pelos alunos. Adriana acredita que os resultados estão sendo visíveis na prática.
– Eu chego na escola e vejo alunos felizes, mostrando os trabalhos, apresentando os trabalhos e os resultados. A gente tem a oportunidade de ver que os professores fazem a diferença na escola – ressalta a coordenadora do Bios Rural.
O resultado que fica é o carinho e a aprovação dos alunos do trabalho dos professores, como Ana e Anderson aprovam a professora Luciana.
– Tenho certeza que todo mundo na escola adora a professora Luciana – fala Ana. – Ela é bem legal – completa Anderson.
– É tão bom quando um pai chega e conta que o filho chega em casa e contagia pai, mãe, avô e avó. Vemos o brilho nos olhos das crianças e a gente vê que o nosso trabalho está fazendo a diferença. Isso não tem dinheiro que pague. É o brilho daquela criança que está interessada e motivada para fazer o bem para a comunidade – retribui a professora.
Assim como Luciana, milhares de professores pelo Brasil afora se dedicam a lecionar para alunos de comunidades rurais. Mais do que uma lição em letras e números, fica uma lição de vida a todas estas crianças.