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Soja Brasil

Sojicultor, que tal aumentar a produtividade em 10% e a rentabilidade em 6%?

Inclusão do agronegócio no mercado de créditos de carbono pode trazer ganhos econômicos e ambientais ao produtor

O produtor de soja é bombardeado com promessas o dia inteiro. Ofertas de centenas de sacas por hectare, super sementes à prova de umidade e corredores que permitirão o escoamento de toda a produção com zero desperdício são apenas alguns dos juramentos ouvidos. No entanto, quando as melhorias são embasadas em estudos científicos e têm por trás instituições de renome, com planos de ação fundamentados, a coisa muda de figura. Esse é o caso do PRO Carbono, iniciativa da Bayer que traz consigo uma audaciosa oportunidade para o sojicultor: possível aumento de 10% em produtividade e 6% em rentabilidade. Mas como?

Primeiramente, vale enfatizar do que se trata a iniciativa da multinacional: incluir o produtor rural no mercado de carbono, um nicho avaliado em 270 bilhões de dólares, de acordo com o indicador IHS Markit Global Carbon. Ainda que bem estabelecido em outros setores, o modelo tem encontrado barreiras para se firmar no campo. “O desafio principal está no que chamamos de MRV, ou seja, em como mensurar, reportar e verificar que o carbono está, de fato, sendo sequestrado pelo solo e não voltando para a atmosfera. A necessidade é que esse MRV seja mais rápido e escalável”, explica o diretor do Negócio de Carbono da Bayer para a América Latina, Fábio Passos.

mercado de cabono, cop26

Para firmar as bases desse mercado no agronegócio, o PRO Carbono conta com parceria de consultorias independentes, de três centros de pesquisas da Embrapa e de universidades como a Esalq/USP e a Unesp. O pontapé inicial foi dado no ano passado e contou com a participação de mais de 400 produtores de soja e milho em 15 estados, ultrapassando 80 mil amostras de solo analisadas. “A ideia para esta próxima fase, na safra 2021/22, é mais do que dobrar esse número de agricultores, podendo chegar a mil inscritos”, conta o diretor.

Já na safra passada, o programa se concentrou, inicialmente, em fazer o chamado “baseline”, ou seja, o tempo zero. “Fomos em 414 propriedades e levamos o agricultor para mensurar o estoque de carbono que ele tinha antes de começar o PRO Carbono. O grande objetivo desse programa é que seja algo de longo prazo, então, em pelo menos três anos, vamos voltar e mensurar novamente este carbono em algumas dessas áreas e também nas novas que farão parte do programa”, enfatiza Passos.

Desta forma, o primeiro ano do PRO Carbono ajudou a Bayer a entender melhor as diferentes dinâmicas de solo, clima e variações possíveis para, agora, fazer o acompanhamento mais direcionado nos próximos anos do programa. “Dentro das primeiras propriedades, comparamos três metodologias de coleta de solo. Uma que é a mais tradicional e outras duas mais rápidas e baratas, de startups”, declara.

Assim, a tradicional análise química e única aceita internacionalmente, mas que não é escalável, foi avaliada juntamente com os métodos AGLIBS e NIR, trazidos por novas empresas em parceria com a Embrapa e agtechs. “O objetivo é fazer extrações do solo por infravermelho ou sonda que sejam mais rápidas e baratas”, conta o diretor. De acordo com ele, os pesquisadores das instituições de ensino escolhidas para o programa ainda estão analisando dados para garantir a ferramenta a ser escolhida. “O mais importante, porém, é que o produtor não terá de escolher entre ser mais produtivo ou captar mais carbono e ser mais sustentável. Poderá ter os dois ganhos ao mesmo tempo”, afirma o especialista.

Carbono: mais produtividade e rentabilidade

No programa capitaneado pela Bayer, os agricultores poderão ser recompensados não apenas pelo que e o quanto plantam e colhem, mas também pela forma como produzem. Para isso, precisam atender a pré-requisitos de conformidade socioambiental, como o respeito ao código florestal, às áreas de preservação e não ter produção em terras indígenas ou quilombolas.

Com a fase documental aprovada, os agricultores selecionarão um talhão de mais de 30 hectares para participar do programa durante três anos, ao passo que um serviço de consultoria dará o apoio necessário para que cada participante adote um rol de práticas de manejo sustentáveis, como plantio direto, cultivo de cobertura e/ou rotação de cultura. “Uma vez que o agricultor intensifica esse manejo, pelos dados históricos e ensaios coletados pelo nosso time técnico em experiências no Sul e Mato Grosso, observamos que ele aumenta em 10% a sua produtividade por hectare e em 6% a sua rentabilidade sem precisar aumentar área”, garante Passos.

De acordo com ele, os parceiros do programa estão concentrados em embasá-lo de forma técnica e científica para validação internacional. “Nosso objetivo também é o de olhar para o agricultor e transmitir a ele que o carbono é muito mais a consequência do que a causa, ou seja, a partir do momento em que ele começa a implementar práticas mais sustentáveis, elas já replicam em benefícios. Essa forma de manejo, que chamamos de PRO Carbono, leva o produtor a ter um perfil de solo melhor, com mais produção e, ao mesmo tempo, gerando mais aporte de carbono”, explica.

Assim, o agricultor não precisa esperar que o mercado de carbono esteja estabelecido para iniciar as práticas de sequestro do gás. “Esses produtores estarão amparados por consultorias técnicas e à medida em que apresentem mais produtividade e menos riscos, conseguiremos fornecer a eles benefícios, como, por exemplo, do Itaú BBA, já que se trata de um agricultor que está mapeado, que tem práticas sustentáveis de forma comprovada”.

Desta forma, a conta é essa: um perfil de solo melhor traz mais produtividade e menos riscos e, ao fazer isso, o produtor estará sequestrando mais carbono, utilizando mais o gás proveniente da atmosfera para transformar em grãos e cereais.

Por falar em conta, o PRO Carbono terá uma calculadora de recomendações feitas a partir dos achados de um simulador que funciona a partir de mais de 170 estudos científicos de manejo de solo e captura de carbono voltados ao agricultor. Especificamente para a soja, Passos acredita que o mercado de créditos de carbono pode significar mais biotecnologia e uma forte adequação de fertilidade e de variedades no campo.

É possível concluir que o ineditismo do programa traz uma série de desafios, como a barreira técnica e científica do carbono na agricultura e a necessidade de desenvolver metodologias de mensuração de carbono acessíveis, escaláveis, com custos viáveis e aceitas pelos mercados internacionais e pela comunidade científica. Para transpor essas barreiras, o manejo inteligente e sustentável do solo feito por sojicultores e outros produtores pode ser a chave de entrada em um mercado bilionário que ainda está em processo de semeadura no agro.

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