O agricultor Roger Rodrigues define bem o cenário enfrentado pela maioria dos sojicultores do Estado:
? O pessoal aqui está até usando um termo triste pra nós, mas estamos tendo que ‘roubar a soja da lavoura enquanto a chuva dá uma bobeada’. É complicado.
É complicado mesmo. As nuvens carregadas não saem de cima das lavouras. A qualquer instante, a chuva aparece e atrapalha mais um dia de colheita.
? Por enquanto, não temos problemas tão graves quanto em outras regiões. Mas que é angustiante, isso é. Era para estar terminando a colheita, já pensando nos próximos trabalhos, e você fica patinando no serviço. Não é bom, não ? lamenta Rodrigues
E o transtorno para quem está no campo vai além da angústia. O presidente do Sindicato Rural Diamantino (MT), Milton Criveletto, não conseguiu colher um talhão na hora certa e ficou no prejuízo.
? Eu mesmo tive um problema sério no começo. Dessequei uma área e não consegui entrar para colher. Perdi três mil sacas com grãos ardidos ? conta.
As dificuldades dos produtores de Diamantino e São José do Rio Claro explicam a preocupação e a decepção de muitos. Ninguém esperava chegar à reta final da colheita com tantos obstáculos e, principalmente, com tamanho comprometimento da renda.
Diferente do que aconteceu em algumas lavouras de Mato Grosso do Sul, por exemplo, o excesso de chuvas na região médio-norte de Mato Grosso trouxe um reflexo menos impactante aos olhos, mas igualmente prejudicial ao bolso dos agricultores, que foram os elevados descontos na hora da entrega da produção.
Se o tempo deixar, o produtor rural Alexsandro Giovani de Souza termina de colher a lavoura ainda esta semana. Até agora, toda a produção que levou para os armazéns sofreu descontos. E eles não foram baixos.
? Fiz um balanço da minha colheita. De umidade, eu perdi três sacas por hectare em função da impureza, pois planto convencional, e a minha média são 2 sacas de desconto por impureza ? explica Souza.
Como colheu em média 50 sacas por hectare, os abatimentos equivalem a 10% do que produziu. Só com estes descontos, os prejuízos nos 4,35 mil hectares podem ultrapassar os R$ 800 mil. Mas as perdas podem ser ainda maiores.
? Tem 10% de prejuízo mensurado. Tem o que a gente não consegue mensurar. A questão de a soja passar do ponto é mais ou menos mais 10%. Tem perda em peso e produtividade em função da umidade muito elevada ? completa Souza.
Assim como Alexsandro, agricultores de praticamente todo o Estado contabilizam prejuízos. Mas as perdas são consideradas pontuais. Só após a conclusão da colheita, que deve acontecer nos próximos 15 dias, será possível conferir se as chuvas comprometeram ou não a produção esperada em Mato Grosso, que era de 19,2 milhões de toneladas de soja.
De acordo com o último levantamento do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), mais de 81% das plantações já foram colhidas. Um atraso de 17% em relação à área colhida na mesma época do ano passado. Nesta sexta, dia 1, a entidade deve divulgar um novo balanço.