O produtor rural paranaense José Eduardo Sismeiro assumiu, nesta quarta-feira (1), de forma interina, a presidência da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil). Natural de Goioerê, Sismeiro tem 54 anos, é filho de comerciantes e agricultores e produtor rural desde 2002. Cultiva soja, milho e trigo nos municípios de Goioerê, Juranda e Manoel Ribas.
Participou da fundação da Aprosoja Paraná em 2013, entidade na qual exerceu a presidência por dois mandatos. Na entrevista a seguir, concedida ao jornal Mercado & Companhia, do Canal Rural, o novo presidente detalha as pautas da entidade e também aborda temas polêmicos, como a possível formação de cartel entre empresas de fertilizantes e a nova classificação para grãos de soja. Confira:
Canal Rural – Quais as prioridades da Aprosoja Brasil a partir de agora?
José Sismeiro: A prioridade da Aprosoja Brasil e das Aprosojas estaduais é defender o produtor rural e suas pautas. Já tivemos, no começo deste ano, a primeira assembleia, e definimos a pauta prioritária, que é em relação aos defensivos, o PL dos Defensivos, relatado pelo deputado federal do estado do Paraná, o Luiz Nishimori, além de regularização fundiária e ambiental, ou seja, temos uma série de pautas que estamos seguindo. Mas o Brasil não é para amador, como costumam dizer, e no meio do caminho vão surgindo assuntos que precisamos estar atentos, como o Plano Safra, que está na iminência de ser lançado. Estamos trabalhando com o deputado federal Sérgio de Sousa e estamos lutando para ter recursos que sejam condizentes com o que temos de fazer, que é produzir alimentos no Brasil de maneira sustentável e também barata, algo que está difícil de fazer com o preço dos insumos que estão nos impondo.
Canal Rural – Em relação aos fertilizantes, a Aprosoja-MT cobrou investigação a respeito da possibilidade da formação de cartel em algumas empresas. Como a Aprosoja Brasil avalia esta questão?
Sismeiro: Vejo com muita tristeza empresas de fertilizantes estarem fazendo isso não apenas com o produtor rural, mas com toda a população mundial. Os insumos, os fertilizantes, têm um custo muito elevado e são uma porcentagem muito grande do nosso custo final para produzir alimentos. Essas empresas estão tendo lucros de 300% e estão divulgando isso como se fosse uma vitória. Acredito que temos de dar voz a essas empresas para que elas digam o porquê isso está acontecendo. Se a história for essa mesmo [a formação de cartel] vejo como uma coisa criminosa. Um exemplo pessoal: em 2020, paguei R$ 1.870 em uma tonelada de fertilizante para poder plantar a minha soja. Hoje em dia, para plantar a da safra 2022/23, tenho certeza de que não consigo essa quantidade por menos de R$ 6.500. Se for uma formação de cartel, tem de ser tratada de forma criminosa porque está até ofendendo a inteligência de todos nós e, mais do que isso, gerando fome no mundo, já que nós produtores temos de comprar adubo neste preço, o que onera o produto final e chega ao consumidor. É algo muito sério. Quero parabenizar o Fernando Cadore, presidente da Aprosoja-MT, e dizer que nós das Aprosojas estaduais nos solidarizamos com essa pauta e vamos dar todo o apoio que for preciso porque queremos esclarecimentos. Isso não pode acontecer de forma alguma, ainda mais em um momento em que estamos passando por uma guerra e colocam a culpa toda em cima disso. Mas será que é isso mesmo? Então merece, sim, esclarecimento.
Canal Rural – Outro tema importante são as mudanças pedidas por algumas entidades sobre a classificação da soja. Qual a sua visão sobre este assunto?
Sismeiro: Essa é uma questão em que, novamente, a Aprosoja Mato Grosso está tomando a frente. Foi feita lá uma pesquisa científica que foi colocada para o Ministério da Agricultura. Para se ter ideia, a soja e o milho, às vezes, não querem nem receber porque está avariado [as trades]. Usaram [na pesquisa] 100% de soja e de milho avariados e os suínos, ovinos e as aves comeram desta ração e tiveram até ganho de peso e não nos pagam isso. Parabenizo, novamente, o Fernando [Cadore] e a Aprosoja Mato Grosso que concluiu este estudo e vamos, agora, em busca de uma coisa justa para o produtor rural. Temos de ter justiça. Nós não precisamos levar vantagem de nada. Precisamos que tratem a gente com respeito e de maneira justa. Simplesmente isso que queremos e precisamos. Agora o Ministério da Agricultura abriu essa pauta e vamos não apenas ter audiências públicas, mas também seminários, onde os pesquisadores vão apresentar as suas pesquisas e vai caber à indústria se defender. De uma maneira justa, à luz da ciência, vamos ter de resolver definitivamente esse problema para que o produtor rural possa receber o que ele realmente tem direito.