Na corrida por terras agricultáveis disponíveis no mundo, os países árabes e a China são os principais interessados. O assunto foi destaque em evento da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com o analista de investimentos em agronegócio Guilherme Bastos, a crise mundial chegou a retrair as aplicações internacionais em terras brasileiras. Mas os estrangeiros voltam a atuar com força no mercado.
O movimento mundial tem no Brasil e na África as principais alternativas. Nações em busca de segurança alimentar, energia e água potável investem em terras com potencial para a atividade agrícola. O negócio cresce tanto que está sendo chamado de novo colonialismo.
Hoje, o volume de dinheiro destinado para comprar terras é enorme. Não existem estatísticas mundiais para acompanhar estes investimentos, mas estima-se que só a China tenha US$ 2 trilhões para aplicar em áreas produtivas. Junto com o continente africano, o Brasil está entre os principais destinos destes investimentos. Mas sobram dúvidas sobre a conduta dos estrangeiros em relação às terras.
? Será que vão obedecer as leis ambientais? Será que eles não vão superexplorar as terras e depois vão embora? Vão expulsar os produtores pequenos e médios? ? questiona a professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) Maria Sylvia Macchione Saes.
Só no ano passado, os estrangeiros compraram 34 mil imóveis no país (uma área de quatro milhões de hectares) e querem adquirir mais. Mas a falta de leis adequadas para regulamentar a compra de terras por capital de fora atrapalha o avanço das negociações.
? Nós temos uma legislação de 1971, colocando a pessoa física como centro da relação. A situação hoje é completamente diferente, porque as pessoas físicas dificilmente compram terras ? explica o professor de Direito Civil da USP Fernando Campos Scaff.
O diretor da Brasil Agro, Julio Toledo Piza, representa uma empresa de capital aberto, com investidores do Brasil e do Exterior, que adquire terras e agrega valor às áreas. Em três anos de atuação no país, Piza comprou 166 mil hectares e nesta safra cultivou 35 mil. De acordo com o diretor da companhia, o retorno chega a três vezes o valor investido. Por este motivo, há interesse em comprar mais terras, mas o negócio acaba esbarrando na burocracia.
Para o conselheiro da Sociedade Rural Brasileira, Luiz Hafers, o Brasil tem capital, tecnologia e escala de produção e, por isso, atrai tantos estrangeiros. Segundo Hafers, a compra de terras é apenas um pedaço do investimento. Ele é contra a especulação imobiliária, mas acredita que o investimento estrangeiro pode ser um bom negócio para a agropecuária do país.
? A compra de terras deve vir sempre acompanhada de projetos. O que nós queremos é o aumento da produtividade, da geração de riquezas ? afirma o conselheiro.