São necessários três elementos para uma doença atingir a soja: planta sensível, organismo causador e clima. Esse último ingrediente, segundo a pesquisadora da Embrapa Soja, Claudine Seixas, é o que dita a incidência e severidade do problema.
Essa informação e muitas outras análises a respeito da principal commodity agrícola do país foram destacadas no programa especial da Embrapa, realizado pelo Projeto Soja Brasil e veiculado nesta quarta-feira (29) na tela do Canal Rural.
Ainda reforçando a maneira como as condições meteorológicas afetam a oleaginosa, Claudine reforçou que nesta safra a situação foi bastante variada, com regiões que atrasaram a semeadura por conta da seca ou excesso hídrico.
“A estiagem em algumas regiões facilitou a presença de oídio, um fungo que se prolifera melhor em tempos mais secos”.
Em outras áreas, onde a soja foi plantada após o feijão ou milho silagem e, portanto, a semeadura foi tardia, a ferrugem asiática se fez mais presente porque a planta sofreu mais com a chuva, de acordo com a pesquisadora.
“A doença na soja nesta safra variou bastante em decorrência das condições a que a lavoura ficou exposta durante o seu desenvolvimento. Em algumas regiões, houve o problema do mofo-branco, doença favorecida pelo tempo ameno e por altas umidades, assim como outros produtores se queixaram da mancha-alvo, que também aparece em ambientes com essas mesmas condições. Tivemos muitos relatos de doenças na soja”, afirma Claudine.
Boletim climatológico especial
Entendendo a importância do agricultor ter informações detalhadas sobre o clima, o programa trouxe um boletim especial com projeções para os próximos meses, destacando a forma como o fenômemo El Niño pode afetar o Brasil e, consequentemente, as lavouras.
Seca afetando a produtividade da soja
A seca é o principal estresse a limitar a produtividade da soja no Brasil, avalia o pesquisador da Embrapa Soja, Alvadi Balbinot, que também participou do programa. “Alguns estados são muito mais acometidos pelo déficit hídrico na cultura da soja, como é o caso do Rio Grande do Sul, que já tem esse histórico, mas também o Piauí e Tocantins que, dependendo da safra, sofrem muito com esse tipo de estresse”.
Segundo ele, entre as tecnologias para atenuar a falta de água no solo, as principais são o uso de cultivares com mais tolerância à seca, o escalonamento de semeadura, além da utilização de certos bioinsumos. “Sem dúvida, uma das maiores estratégias que temos hoje para lidar com esse problema é o adequado manejo do solo, principalmente seguindo os preceitos do plantio direto, com menor revolvimento do solo, cobertura permanente com plantas vivas ou por palha e a diversificação das espécies cultivadas”, enumera.
Balbinot lembra que existem muitas propriedades com sistemas de manejo de solo mal conduzidos, com taxas de infiltração que variam de 10mm a 20mm. “Isso é muito pouco, haja visto que se ocorrer uma chuva de 30 mm a 40 mm, teremos um escoamento superficial, erosão, perda de nutrientes, sedimentos, ou seja, um problema ambiental e econômico e, lá na frente, essa agua escoada vai fazer falta para a cultura”.
O pesquisador também salienta a importância da profundidade do sistema radicular da soja.
“Hoje, para se ter produtividade alta, acima de cinco toneladas de grão por hectare, precisamos ter um sistema radicular vigoroso e profundo. Quando temos essa profundidade abaixo de 60 cm, 80 cm, há uma condição em que a cultura é muito mais tolerante a veranico. Obviamente quando a seca é muito intensa e prolongada, essas estratégias de manejo minimizam um pouco, mas o prejuízo ainda acaba batendo no bolso do agricultor”, conta.
Evolução do sistema plantio direto
Nos últimos 25 anos, a cultura da soja no Brasil teve uma taxa anual de crescimento de área de, aproximadamente, um milhão de hectares, conforme Balbinot. “Já a produção cresceu cerca de quatro milhões de toneladas a cada safra, em média. Ainda que se fale que a produtividade está estagnada em algumas áreas, vemos que há uma tendência geral de aumento de rendimento da ordem de 40 kg por hectare a cada ano que passa, considerando uma análise das últimas duas décadas”.
O pesquisador lembra, ainda, que grande parte do crescimento da soja no Brasil nos últimos anos tem sido em cima de pastagens com algum nível de degradação. Sendo assim, nas palavras dele, a integração lavoura-pecuária é uma evolução do sistema de plantio direto.
A respeito da maneira de evitar a compactação superficial do solo, Balbinot afirma que anos de pesquisa levaram a entender que a melhor forma é por meio do plantio direto com diversificação de cultura. Assim, combina-se com a soja ou o milho, por exemplo, outras culturas que tenham elevado crescimento de raízes e também biomassa área.
“Esse acúmulo de carbono orgânico e, principalmente, o aumento do crescimento de raízes finas, como aveia-preta, azevém, braquiária, panicum, milheto, ajudam muito na estruturação do solo, na formação de fluxos contínuos, entrando oxigênio e água no solo, permitindo adequado crescimento das raízes das culturas agrícolas. Na soja esse benefício é bastante visível”, enfatiza o pesquisador.