Localizada em uma então área rural, era comum plantações de flores e hortigranjeiros. Mas a crescente urbanização do município de Canoas fez com que a área perdesse suas características. Uma das moradoras mais antigas, Maria do Carmo de Jesus, 78 anos, conta que chegou ao local com 9 anos. Ela lamenta que a aptidão agrícola tenha se perdido no tempo.
? Era uma chácara muito especial. É ainda, mas quando começou, era uma chácara muito rica, com muitas frutas, flores, criação de porcos e galinhas. Tinha gado, tinha cavalo. A metade da chácara até aqui esta frente era com plantas de eucalipto, de acácia ? conta.
Além da estrutura, outra luta que a comunidade quer vencer é contra o preconceito. A moradora Neusa Genelício relata que são comuns casos de racismo com os moradores, inclusive com as crianças.
? Ainda temos este assunto de preconceito por aqui. A gente tem muito disso aqui. Nos colégios também. A gente está tendo muitos problemas. Muitas das crianças não estão querendo ir às aulas por causa disto ? ressalta.
Segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), cerca de 24 famílias vivem no território de 3,6 mil metros quadrados. O Chácara das Rosas foi o primeiro quilombo urbano que teve seu território totalmente titulado, fato que ocorreu em 20 de novembro de 2009. A presidente da Associação Quilombo Urbano Chácara das Rosas, Isabel Cristina Genelício, acredita que este é um primeiro passo para resgatar a cultura e história do movimento e manter a luta pela resistência.
? O mais importante a gente já conseguiu que foi o território. O território é importante para nós porque é aonde a gente desenvolve toda a questão social e estrutural da comunidade que, há muitos anos, lutou pela igualdade, e ainda luta pela igualdade, pelo espaço, pelos seus direitos ? enfatiza.
A luta da comunidade não foi em vão. Um acordo com a prefeitura de Canoas vai possibilitar a reforma das moradias do quilombo. Além disso, outras conquistas como luz e saneamento básico já foram entregues à comunidade. O morador Jorge Gabriel de Jesus salienta também o atendimento à saúde como uma das conquistas.
? A habitação já está para fazer as casas para nós e tudo está bem adiantado. No início a gente não tinha uma assistência de saúde por aqui, agora já vem um ônibus na comunidade para dar uma assistência de médico, de dentista. Não é sempre, mas de vez em quando eles vêm ? relata.
Na associação, a comunidade busca alternativas de geração de emprego para os moradores. Um dos trabalhos desenvolvidos pelo grupo de mulheres é o incentivo ao bordado. Mas uma das ideias é recuperar a antiga vocação do local, com a construção de hortas comunitárias. A criançada também tem espaços para leituras. Na sede da associação, existe um baú do projeto Arca das Letras, desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. Aliás, esta é a próxima luta da comunidade, segundo Isabel: a educação como formação de cidadãos.
? Aonde tem educação, a gente tem tudo, a gente tem porta. A gente tem que saber da realidade da vida da gente. Sabendo dos nossos direitos nós temos saúde. Estudando vamos saber a nossa real história, porque vamos nos interessar ainda mais, se aprofundar ainda mais. Se tivermos uma formação, conseguiremos desenvolver o nosso território ? acredita.
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