O risco de aumentar a janela de plantio de soja no Brasil – ou seja, o período em que a oleaginosa pode ser semeada no país – é a perda mais rápida de eficiência de moléculas de controle de doenças como a ferrugem, além do aumento da aplicação de agroquímicos, avaliou a pesquisadora da Embrapa Claudia Godoy no evento online “Cenário de riscos da antecipação do calendário da soja”, na noite de quarta-feira (8).
Segundo a pesquisadora, contudo, a mudança não causaria prejuízos similares aos registrados nos primeiros anos em que a ferrugem surgiu no país. “O maior risco é aparecerem novas mutações e a gente começar a perder mais moléculas. Podemos ter que fazer aplicações em intervalos mais curtos para conseguir um controle eficiente. Pode reduzir (intervalo de aplicações) para dez dias, ter mais aplicações, usar muitos fungicidas”, afirma.
Segundo pesquisadores que participaram do evento, a antecipação do calendário de plantio pode representar um risco tanto para doenças fúngicas como para ataques de insetos. Quanto ao papel dos estados no calendário de plantio, Claudia destacou que é o da análise de risco. “A soja é uma cultura que tem grande importância para a maioria dos estados. Perder moléculas que garantam essa sustentabilidade (da produção) tem impacto muito grande”, disse a pesquisadora. “Para estender janela e trazer uma doença que quebrou muito produtor no passado, tem que fazer uma análise de risco para ver se vale a pena.”
Registro demorado
Conforme a presidente do Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas (FRAC-BR), Kelly Simões, o desenvolvimento, a testagem e o registro de fungicidas e inseticidas é longo e custoso, por isso medidas que coloquem o manejo em risco precisam ser muito bem avaliadas. “O processo todo leva cerca de 12 anos e são investidos milhões. Pode chegar de 280 milhões a 290 milhões de euros para o desenvolvimento de um novo fungicida ou inseticida ou novo modo de ação“, disse. “A produção de soja não é por um, dois, dez anos, é para ter continuidade e sustentabilidade”, acrescentou a pesquisadora da Fundação MT, Lúcia Vivian.
Em 1º de setembro, o Ministério da Agricultura publicou a primeira portaria ampliando o calendário de semeadura da soja no Brasil, a 389, que foi criticada por várias entidades do agronegócio, órgãos estaduais de defesa vegetal e a Embrapa, com o argumento de que haveria riscos de maior disseminação do fungo causador da ferrugem, e sua resistência aos fungicidas existentes, cuja eficácia vem diminuindo ao longo dos anos. Após os protestos de parte do setor, o ministério editou a portaria 394, em 10 de setembro, que manteve o prazo estendido da semeadura, até fevereiro, para a maioria dos estados, mas concedeu aos governos locais a prerrogativa de acatá-lo ou não, mediante solicitação justificada.