Enquanto o Indea-MT estudava liberar o cultivo da soja neste mês, teve produtor que se antecipou, plantou e chamou empresas de pesquisa para acompanhar a lavoura
Pedro Silvestre, de Cláudia (MT)
Enquanto o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT) estudava a liberação ou não do plantio de soja em fevereiro, para realização de pesquisas, agricultores se anteciparam e, mesmo desobedecendo a atual legislação vigente do estado, plantaram a soja. A iniciativa é para tentar mostrar que a mudança é mais eficaz do que a semeadura em dezembro. Mas, na tarde desta sexta-feira, dia 8, instituição não autorizou o cultivo neste mês.
O produtor João Paulo Rorig, do município de Cláudia, fez quase tudo o que manda a legislação em relação a salvar sementes de soja:
1 – registrou a sua área no Ministério da Agricultura;
2 – pagou os royalties à empresa detentora do germoplasma do grão;
3 – não cultivou soja na área reservada durante a safra de verão (colocando milheto no lugar).
Só um quesito não cumpre as regras: a data escolhida para o plantio da oleaginosa está fora da época permitida na lei, que limita a tarefa a 31 de dezembro. O produtor resolveu plantar agora no dia 7 de fevereiro, bem distante do autorizado em Mato Grosso.
“Optamos pelo plantio nessa primeira semana de fevereiro devido a qualidade da semente, pois em dezembro não temos as melhores sementes. Há alguns anos discutimos isso, tentamos mudar, mas não temos respostas. Já tentamos, brigamos muito e esse ano decidimos plantar fora do calendário mesmo”, afirma.
A decisão do agricultor não foi por birra ou sem motivo, já que quatro anos atrás ele fez também plantou em fevereiro. O resultado foi determinante para que ele decidisse repetir o plantio nesta época.
¨Os resultados foram muito bons! Sementes de alto vigor, pouca pressão de doenças e menor descarte, gerando uma semente de ótima qualidade. Por isso considero indiscutível a qualidade da semente no plantio agora em fevereiro”, conta.
Para cultivar os 80 hectares destinados à produção de sementes próprias, Rorig usou 8 mil quilos de sementes. A colheita está prevista para daqui 90 dias e o ele faz questão de deixar a porteira aberta para quem quiser acompanhar o resultado final.
“Acho que tem muito pouco estudo a respeito disso aí. A gente precisaria se aprofundar um pouco mais a respeito dessa ponte de doença, porque nesse período a soja teve menor pressão de doenças, quando plantei. Estamos plantando para provar que dá certo plantio nessa época, especialistas, pesquisadores estão convidados para dar uma olhadinha, acompanhar, discutir, conversar a respeito e chegar a uma decisão do que é melhor”, afirma.
A Aprosoja também reforça o convite para que a pesquisa acompanhe os resultados do plantio em fevereiro e espera sensibilidade do órgão fiscalizador com os agricultores que estão cultivando os campos experimentais.
“Na questão jurídica acredito que não vai ter problema nenhum, porque discutimos isso com o governo, com o Indea e outras entidades. Não acredito que o Indea hoje se negar em dar essa autorização, uma vez que já foi um assunto discutido. Precisamos desmistificar o que muitos falam, mas não apresentam estudo nenhum”, afirma o presidente da Aprosoja Mato Grosso, Antônio Galvan.
Para ele, esse plantio de fevereiro mostrará isso e as empresas de pesquisa que se opõe ao plantio em fevereiro deveriam ir até essas áreas para observar de perto. São pequenas áreas, vamos fazer esse trabalho com a Fundação Rio Verde e, volto a reiterar, que as empresas que se manifestaram contra que venham acompanhar, para depois não querer botar em cheque o trabalho que a Fundação Rio Verde fez”, diz Galvan.
Entenda o caso:
Em vigor desde 2015, a normativa do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT) que regulamenta a calendarização do plantio, estaria prejudicando os agricultores que desejam produzir suas próprias sementes, segundo a Aprosoja-MT, que também afirma que o cumprimento de tal calendário estaria aumentando os riscos de instalação e propagação da ferrugem asiática – bem como ampliando as chances de perda acelerada da eficiência dos fungicidas usados para combatê-la. Continue lendo!
A Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) manifestou, em nota divulgada nesta sexta-feira, dia 4, “discordância e preocupação” quanto à recomendação da Associação dos Produtores de Milho e Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT) de que agricultores do estado façam o plantio da oleaginosa para produção de sementes próprias a partir de 1º de fevereiro, e não até 31 de dezembro, que é o recomendado por técnicos. Veja os motivos!