Extratos naturais e microrganismos, como fungos e bactérias, podem ser as novas armas para o combate de pragas na lavoura. Pensando nisso, fazendeiros de Mato Grosso estão investindo na produção de biológicos.
Em Sapezal, a 529 quilômetros de distância de Cuiabá, um fato tem chamado a atenção: um laboratório em plena fazenda. Por ali, a soja é o carro chefe, mas a produção de vírus, fungos e bactérias está ganhando sua importância.
“Os vírus são destinados principalmente para o controle de lagartas. Já as bactérias servem para lagartas, percevejos, doenças de solo e para colonização do solo, colaborando para a biodiversidade. Os fungos a gente trabalha para a mosca branca, para disponibilizar fósforo para o solo e para controle da cigarrinha, nas pastagens”, afirma a bióloga, Ana Hoffmann.
Seis funcionários trabalham na produção de biológicos na fazenda. No laboratório, as bactérias são multiplicadas em um processo que dura 48 horas. Já o controle de fungos é mais complexo e exige um ambiente controlado. Tudo deve ser mantido limpo e esterilizado para evitar a contaminação de microrganismos que estão no ambiente. Com a ajuda dos equipamentos, os fungos e bactérias se reproduzem com maior rapidez.
Temos uma incubadora que serve para manter a temperatura adequada, assim os microrganismos crescem. Sem falar que também temos uma incubadora com opção de luz ou escuro, simulando o dia e a noite”, explica a bióloga.
O laboratório conta também com uma sala de crescimento dos fungos. Ali a temperatura precisa ser amena e ficar em torno de 21ºC. As matrizes dos fungos ficam em potes, com arroz parboilizado, se desenvolvendo, ou seja, mais alimento para esses microrganismos. Depois que o fungo está pronto, ele é aplicado por meio de uma seringa, em sacos que também têm arroz tipo agulhinha, para servir de alimento e para o fungo continuar se desenvolvendo.
Em 15 dias, quando a cultura estiver adequada, esse fungo vai ser moído e utilizado na lavoura. Na fazenda, os vírus estão sendo usados desde o final de 2018. Primeiro, a spodoptera cosmioides, popularmente conhecida como lagarta da soja, é mantida dentro de um frasco com alimento. Depois, ela é exposta ao vírus e, quando morre, o material é batido e aplicado na lavoura, para combater as outras lagartas.
“Todo o produtor visa a redução de custos, mas isso também traz uma grande alternativa no impacto ambiental, na qualidade do produto e no manejo dinamizado. Então além de reduzir algumas aplicações de produtos químicos, a gente também tem todos esses outros benefícios de manter uma biodiversidade muito maior no campo”, comenta Ana Hoffmann.
A fazenda já chegou a produzir soja 100% orgânica, mas parou em 2013 com a chegada da ferrugem asiática, que precisa de produtos químicos para ser combatida. O gerente da fazenda conta que foi um aprendizado começar a trabalhar com os biológicos. Eles são um complemento e tanto para o uso no campo.
O primeiro ano eu levei do meu jeito. Gastei biológico, químico, não podia ver uma lagarta que eu já queria terminar de matar ela. Com biológicos tem hora que escapa uma lagarta ou outra, mas conseguimos ter uma eficiência muito boa. O controle fica dentro do desejado”, afirma o gerente da fazenda, Daniel Henrique de Oliveira.