Preocupação com a estiagem no começo da safra virou otimismo com boa produção. Por outro lado, o mercado do grão não anima os agricultores do norte do Paraná
Ricardo Cunha | Paraná
Os produtores do norte do Paraná semearam a soja sem grandes expectativas no começo desta safra. Mas falta de chuvas no período do cultivo foi compensada pelas precipitações em janeiro. Os primeiros resultados da colheita na região estão sendo favoráveis.
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O agricultor Luiz Alberto Palaru é um exemplo, ele está apenas começando a colher. O sojicultor calcula que já retirou 20% da área de 250 hectares que possui no município de Floresta. O pessimismo, que Palaru manteve ao longo da safra já foi embora.
– Está melhor que ano passado, acho que vamos fazer uma média de 60 até 70 sacas por hectare – comemora.
A semeadura no Paraná atrasou quase 20 dias no começo da safra 2014/2015. Faltou chuva em outubro. Por conta da estiagem, que em algumas regiões se prolongou ainda mais, a safra não está sendo igual para todos os produtores paranaenses.
– Eu tenho amigos em Palotina que colheram apenas 30 sacas por hectare – comenta Luiz Palaru.
O analista da consultoria Safras & Mercado Luiz Fernando Gutierrez afirma que, apesar de quebras pontuais, a expectativa é de produção recorde no Paraná.
– Apesar das quebras, a gente espera uma redução no oeste e no norte do Estado, mas, no geral, esperamos uma safra muito grande, de recorde no Paraná. Deve colher em torno de 17 milhões de toneladas, 19% da produção brasileira – projeta.
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Na região de abrangência da cooperativa Cocamar, norte e noroeste do Estado. A colheita deve ser 30% maior que a da safra passada. A previsão é de uma produção de 2,2 toneladas de soja.
– A expectativa é muito grande. As lavouras estão apresentando um excelente potencial produtivo. Os primeiros talhões estão colhendo média de 60 sacos e, alguns, até 80 sacos por hectares. Sabemos que não é a média que vai até o final, mas esperamos de 50 sacas pra cima – comenta o gerente de produtos agrícolas da cooperativa, Leandro Cezar Teixeira.
Com tanta soja saindo das lavouras, a Cocamar ampliou em 10% sua capacidade de armazenamento.
– Está safra será muito boa. Aqui na cooperativa nós temos uma expectativa de bater recode em recebimentos. Pela primeira vez na história, devemos ultrapassar a casa de um milhão de toneladas – afirma Teixeira.
Mais chuva, mais custos
Ao mesmo tempo em que as precipitações ajudaram, também vieram acréscimos nos custos de produção. O sojicultor Luiz Paluru aumentou os gastos em 20%.
– Tivemos que fazer três aplicações de fungicidas. Percevejo também deu muito trabalho. Porque fazia a aplicação, chovia e perdia o produto. Aumentou o custo – explica.
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Parte desse prejuízo os agricultores esperam recuperar com a comercialização da safra, que este ano segue mais lenta.
– Este ano nós vimos o mercado em Chicago com preços mais baixos. O produtor, esperando preços melhores, acabou pegando valores mais baixos e não anteciparam as vendas. Eles estão segurando um pouco mais. Mesmo assim, o Paraná já deve ter comercializado entre 25% e 30% da soja. Na última safra, o número era de 40% nesse período – analisa Luiz Fernando Gutierrez.
Dólar preocupa
Se não bastasse a perspectiva de preço menor, os produtores estão preocupados também com a conjuntura econômica do Brasil. Para eles, as altas nos preços dos combustíveis e do frete devem reduzir ainda mais a margem de lucro. Além disso, tem gente preocupada com o impacto do dólar mais alto na hora de comprar insumos para a próxima safra.
– Os produtos estarão mais caros, com certeza. Na verdade, a fórmula que nós usamos custou R$ 1.500. Eu acredito que agora por menos de R$ 1.600 vai ser difícil. Se a soja ficar neste preço, vai pesar – diz o sojicultor Marco Bruschi Neto.
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