Sojicultores plantam no pó e desistem de replantio para salvar algodão

Situação tem dividido opiniões no município de Campo Verde (MT), já que muitos agricultores têm contratos futuros em ambas as culturas para cumprir

Alguns produtores de Mato Grosso, devido a falta de chuvas e, consequentemente, de condições ideais para o plantio da soja (em alguns casos já semeada), estão desistindo inclusive de tentar o replantio. Diante dos possíveis prejuízos com a lavoura, a solução é apostar em outra cultura que possa garantir mais lucro. Em Campo Verde, no sudeste do estado, o foco agora é no algodão.

Por lá, muitos já estão pensando na janela da segunda safra de algodão, cultura tradicional na região. Afinal, acabaram se arriscando e cultivando a soja mesmo sem umidade, apostando em chuvas que não vieram e o resultado não poderia ser pior. Várias lavouras estão sendo gradeadas já que a falta de umidade não germinou a soja. Agora, com a janela da segunda safra também comprometida, os agricultores irão mesmo é plantar algodão, como a única esperança para tentar salvar o ano e poder honrar os compromissos antecipados.

“Tenho contrato futuro para entregar. Adubo e inseticidas comprados antecipadamente para tocar a lavoura durante o ano. Essas coisas estão estocadas na cooperativa e o gasto é muito alto. Então a gente tem que espernear mesmo e fazer o possível e o impossível para ver se dá certo”, conta o produtor rural da região, Vitor Vesz.

Assim como na maioria das propriedades do país, o cultivo da soja era a aposta para a primeira safra, tentando assim garantir o lucro. Mas, a semeadura não avançou. Dos 3 mil hectares que possui, Vesz conseguiu semear apenas mil. E desta área, muitas plantas correm o risco de não sobreviver.

“Já estou com 70 hectares que provavelmente terei que replantar. Não vai ter como escapar disso. Essa lavoura está plantada e nascida. Mas, muito atrasada. E com este desenvolvimento, certeza que vai trazer prejuízo lá no final. Se tivesse chuva seria diferente e a produção com certeza seria outra. A outra parte da minha área estou esperando, não vou arriscar plantar no pó novamente, porque não tem previsão de chuva. Se fizer isso, mesmo com semente boa, terei prejuízo.”, explica.

Na fazenda de Juliano Panici, a situação é ainda pior. Para não perder a janela da segunda safra de algodão, que é principal fonte de renda da propriedade, ele arriscou e plantou soja com pouca umidade no solo. A expectativa era aproveitar a chegada das chuvas, que não vieram. E agora o agricultor terá um prejuízo de pelo menos R$ 500 mil. Para não perder mais dinheiro, o jeito é seguir direto para a safra de algodão.

“A soja foi plantada com uma chuva de 35 milímetros e o solo seco. Depois as chuvas não foram suficientes para melhorar a umidade umidade e perdi a lavoura, teria que replantar. Mas, não farei isso não. Ainda mais nessa época. Compensa mais ir direto para o algodão mesmo, que já temos experiência. Já aquele produtor que não tem costume de plantar o algodão e que iria fazer por ocasião do preço ruim do.milho, pra ele talvez compense replantar e fazer soja e milho de novo”, comenta Panici.

Segundo o presidente da Cooperativa Fibra, de Campo Verde, José Carlos Dolphine, vários produtores já tomaram essa decisão. Já gradearam a área, passando tudo para o algodão, para  plantar em dezembro, tentando assim assegurar uma safra dentro das uniformidades. “Mas, também tem alguns que preferem aguardar mais um pouco, ver se vai valer a pena segurar a soja para tentar depois fazer um algodão de segunda safra um pouco mais tarde”, diz Dolphine.

Porém destaca que isso é um risco, pois indeciso, pode tomar esse prejuízo causado pelo plantio que perdeu, além de correr o risco de também tomar uma decisão para frente, com o algodão e perder produtividade por falta de chuvas.

“Provavelmente teremos uma quebra na produção de soja e uma quebra de produção de algodão por área plantada. Hoje, ainda é difícil falar em números, mas pelo que a gente vem olhando, acredito em uma redução de até 25% da área plantada com algodão no município. Isso é uma quebra grande, bem representativa tanto para o município, quanto para o estado e para os produtores rurais, que tem os seus compromissos de contratos de vendas futuras para cumprir. Assim como tem também contratos futuros de soja para janeiro, que eu acredito que vai ter uma dificuldade enorme para cumprir, por conta das áreas que não conseguiram ser plantadas”, desabafa o presidente da cooperativa.

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