Solo fértil e clima favorável beneficiam cultivo de arroz na Ilha de Marajó (PA)

Introdução da cultura está transformando a paisagem na regiãoA cultura do arroz, comum no Sul do país, encontrou na Ilha de Marajó, no Pará, solo fértil e clima favorável para cultivo. Maior ilha fluviomarinha do mundo, Marajó é formada por 12 municípios. A introdução da orizicultura está transformando a paisagem na região.

— Aqui é tudo área de várzea e tem bastante água. Nós temos a baía do Marajó, que recebe água dos rios Tocantins e Amazonas. O clima, com cinco meses sem um pingo de chuva e muita água, é o que o arroz quer — diz o arrozeiro Renato Quartiero.

Até 2009, Quartiero e o pai dele, o deputado federal Paulo César Quartiero, plantavam arroz em Roraima e acabaram envolvidos numa polêmica que se estendeu durante anos. A área de cultivo estava dentro da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol. Pelo menos por duas vezes tiveram problemas com a Polícia Federal, sendo que em uma delas, foram levados para a sede da instituição em Brasília, depois de entrar em confronto com os índios. Na segunda vez, protestavam contra a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, favorável à desapropriação dos agricultores. Com a decisão do Supremo Tribunal Federal, que determinou a retirada dos arrozeiros, a família se mudou para a Ilha de Marajó.

— O terreno é plano, que favorece uma boa irrigação da cultura, e também a parte da vegetação nativa, que é campo natural. Não tem gasto elevado com desmatamento — avalia o engenheiro agrônomo Tomi Segabinazzi.

— Começamos com 400 hectares no primeiro ano. No segundo foram dois mil hectares e neste ano 2.850 hectares. Vamos ver se conseguimos abrir uns mil por ano. Tem um potencial nesta fazenda para uns oito mil hectares — estima Quartiero.

A produtividade também é boa, de 120 sacos de 50 quilos por hectare. A colheita começou em novembro e vai até fevereiro.

A irrigação vem do rio Arari. As bombas retiram dois mil litros de água por segundo. A água circula por toda a lavoura e, por meio de canaletas, é devolvida ao rio. A técnica causa polêmica na ilha, pois alguns pescadores  reclamam do cheiro dos defensivos e que o produto estaria afugentado os peixes.

— (A técnica) Está trazendo um problema para o pescador. O inseticida cai no igarapé, está transbordando para o rio Araré e dificultando o peixe, que está indo para outros locais. A situação do pescador está ficando mais difícil — diz o presidente da Colônia dos Pescadores, Fernando Feio.

A Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Pará afirma que os arrozeiros têm licença ambiental desde 2010 e trabalham na legalidade. O Ministério Público Federal investiga uma queixa, recebida no início do ano, de possíveis irregularidades ambientais provocadas pelo cultivo de arroz na Ilha de Marajó.

Mudança

Outros pescadores não só aprovam o cultivo do arroz, como gostariam de trocar a profissão pelo trabalho na lavoura. É o caso da pescadora Ilma Serra.

— Aqui o cara que não pesca, trabalha na prefeitura. Pelo menos o arroz trouxe emprego. Tem muita gente que trabalha no arroz — afirma.

Arli dos Santos é um exemplo. Ex-vaqueiro que sempre trabalhou na informalidade, é um dos 80 empregados de uma fazenda da região. Em pouco tempo foi promovido, virou operador de máquina, tem carteira assinada e hoje ganha o dobro.

— A tendência de operador é subir, né? O vaqueiro não tem muito valor aqui na Ilha. A tendência daqui pra frente é crescer. Já tenho até diploma — comemora.

O projeto do governo do Estado é fazer da Ilha de Marajó uma referência mundial na produção de arroz.

— Não temos dúvida que nós poderemos ter em um futuro próximo um pólo de arroz no Marajó, trazendo para aquela região um grande sentido econômico e, por conseguinte, emprego e renda — espera o secretário de Desenvolvimento Econômico do Pará, Sindey Rosa.

Por enquanto, o arroz produzido na Ilha de Marajó abastece somente o mercado do Pará. A previsão até o final da safra é distribuir 40 mil fardos por mês.

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