A série de reportagens do Canal Rural mostra as características da produção agropecuária no Velho Continente. Na primeira reportagem, Luiz Patroni e Eduardo Viné Boldt mostram que para os franceses os subsídios significam a garantia de permanência do homem no campo.
Viajar pela França é garantia de encontrar belas paisagens e muitas histórias. Em alguns lugares, o passado ainda parece estar vivo. As construções antigas e o fraco movimento nas ruas de Beauvais, a 100 quilômetros de Paris, são exemplos disso. Ao lado do asfalto, paredes envelhecidas guardam as tristes lembranças do pequeno município que um dia quase foi riscado do mapa.
Durante a Segunda Guerra Mundial a cidade de Beauvais foi intensamente bombardeada pelas tropas militares. Os ataques destruíram 80% das construções e também arrasaram os campos agrícolas. Milhares de pessoas deixaram o local. Com o passar dos anos e com o apoio de imigrantes europeus que mudaram para a cidade, ela se reergueu. O campo se fortaleceu e passou a contribuir para que a região se transformasse em um dos destaques agrícolas da frança.
É no Norte do país que está concentrada a maioria das plantações de grãos e cereais. Também há espaço para pecuária, reflorestamento e preservação de áreas verdes.
Em uma típica fazenda, onde são produzidos grãos e carne, o produtor rural Didier Verbeke cria galinhas do pescoço-pelado, que são comercializadas na comunidade. No restante da área de 115 hectares, planta lavouras e pasto para alimentar o gado de corte. São 70 cabeças. Durante o ano, o rebanho passa sete meses no campo. E fica confinado nos outros cinco, que são mais frios e secos.
O produtor vende os animais ainda jovens para o frigorífico. Em geral vão para o abate com seis meses, pesando 350 quilos. O preço da arroba é quatro vezes maior que o pago no Brasil ? R$ 380 ? e a pecuária ainda garante outros lucros. Para cada bezerro nascido, didier recebe 250 euros ? ou R$ 580, de subsídio do governo.
? Este auxílio que recebemos é muito importante. Sem ele eu não conseguiria permanecer na atividade. O subsídio é maior do que meu lucro anual ? relata o produtor.
A concessão da ajuda contribui para manter os produtores no campo e evita a necessidade de ampliar as importações de alimento. Todos os anos são distribuídos 10 bilhões de euros em subsídios agrícolas na França, segundo o Ministério da Agricultura e Pesca.
Para ter acesso ao dinheiro, são estabelecidas algumas normas, que variam de acordo com a linha de crédito. Uma delas exige a utilização de 3% da área para a produção de ativos ambientais, como plantio de florestas por exemplo. Quanto ao apoio à comercialização, as lideranças do setor desconversam.
? Os subsídios agrícolas são importantes, mas os produtores vivem do que produzem. As subvenções vem mais para ajudar a problemas externos, como por exemplo, os climáticos, causados por doenças, e as ajudas vem para ajudar a complementar. Mas os produtores vivem daquilo que produzem e do que vendem. E desde 1992 os preços são fixados e os produtores vivem do que produzem e do que vendem ? relata o diretor adjunto Câmara de Agricultura de Oise-França, Laurent Mingan.
O economista da secretaria de Agricultura do Paraná, Francisco Carlos Simioni, discorda. Para ele, os subsídios interferem sim nas relações comerciais.
? O produtor europeu tem uma proteção e ela que faz com que ele seja diferente do nosso produtor no Brasil, a garantia de comercialização, a garantia de colocação do produto dele no mercado. Seja no mercado interno, seja no mercado externo. Mas se os brasileiros recebessem subsídios como eles, seria diferente, não tenho dúvidas que seria, porque o subsídio aqui é muito pesado, pode chegar aí acima de 40%. O que realmente é um índice muito favorável e dá uma condição extraordinária no processo de comercialização ? relata.
Antes de deixar a França, a equipe perguntou ao produtor Didier Verbeke se ele conhece a realidade da agropecuária brasileira e se sabe que – mesmo sem subsídios – os nossos produtores precisam preservar entre 20 e 80% da fazenda para reserva legal.
? Eu não conheço o Brasil, mas ouço dizer que as propriedades são enormes. Sei que em algumas regiões, como no Paraná, as propriedades são pequenas. Se eu tivesse uma grande propriedade compreenderia a necessidade de destinar uma parte para o plantio de árvores. Vivo numa região arborizada em que não há esta necessidade, mas não sou contra este tipo de imposição ? diz.
Confira o infográfico com as reportagens feitas pelo Canal Rural pela Europa