Camps será o CEO da Sunchem South Brazil, fruto de uma parceria entre a empresa italiana de biotecnologia Sunchem e a M&V Participações, que tem sede em Porto Alegre (RS). A organização deve ser fundada oficialmente no segundo semestre deste ano e também será sediada na Capital gaúcha. O profissional leva na bagagem a experiência de quatro anos à frente da Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (CEEE), entre 2007 e 2010. Ex-produtor rural, também conhece a rotina no campo.
— No período em que fui presidente da CEEE, tive contato direto com produtores de fumo e sei que o agricultor precisa gerar mais renda. O Brasil está comprometido com a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde (CQCT-OMS) para criar alternativas ao cultivo da folha. Então, vamos estimular os fumicultores a plantar também o tabaco energético na diversificação das lavouras — aponta.
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A semente não pode ser utilizada para a fabricação de cigarros, uma vez que possui baixo teor de nicotina. É, no entanto, rica em óleo, com 40% da substância em sua composição, segundo Camps. O número é superior ao de oleaginosas tradicionais, como a soja, que, conforme a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Soja), tem 18%.
Outra vantagem apontada pelo economista é a produtividade. Dados da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) revelam que a plantação de fumo tradicional produz cerca de duas toneladas por hectare ao passo que, segundo Camps, o tabaco energético chega a render entre seis e 10 toneladas por hectare. Ele acrescenta que os benefícios da cultivar também estão em fase de consolidação no Exterior – em especial na Itália e Estados Unidos – e tem patente registrada em mais de 50 países.
— Hoje, 85% do biodiesel produzido no mundo é proveniente da soja, que é um alimento. O tabaco pode servir para esse tipo de demanda, sem interferir no mercado de alimentos. Essa é uma das maiores qualidades desta matéria-prima, que tem valor estratégico para o Brasil e para o mundo — argumenta.
A produção do tabaco energético em escala comercial no país está prevista para meados de 2014, com a construção de uma indústria com capacidade para esmagar aproximadamente 250 mil toneladas da semente por ano. Conforme o executivo, o investimento total para a consolidação do projeto é estimado em R$ 20 milhões, dos quais pelo menos R$ 2 milhões já foram desembolsados. A lavoura experimental também deve ser ampliada consideravelmente. Camps diz que a ideia é aumentar a plantação de 10 para mil hectares já no ano que vem.
Os planos para o futuro da produção envolvem ainda a expansão para Santa Catarina e Paraná, sem prazo definido, e também para a região do Cerrado, que, de acordo com o economista, também tem potencial para o cultivo do tabaco energético. Em relação à comercialização, ele informa que há grande potencial no mercado interno, além de haver empresas estrangeiras que já sinalizaram interesse.
Inovação e parceria no campo
A forma de cultivo do tabaco energético é semelhante à do tradicional. Camps pontua, no entanto, uma diferença crucial no manejo: a colheita mecanizada.
— Vamos quebrar paradigmas. A técnica, que é dominada há séculos, continuará a mesma, mas com a colheita por meio de máquinas. Isso é uma vantagem e vamos orientar os produtores neste sentido. A partir de 2013, devemos implantar o sistema integrado, entregando sementes para a obtenção das mudas e garantiremos a compra de toda a produção. A diversificação é indispensável para reduzir a dependência que o agricultor tem do fumo e isso é possível com o tabaco energético — ressalta.
A ideia da nova alternativa é vista com otimismo pelo presidente da Afubra, Benício Werner. Ele acredita que, além de ser uma oportunidade de ampliar as práticas sustentáveis na fumicultura, a produção de tabaco energético tem grande potencial para geração de renda.
— Essa variedade tem uma produtividade altamente superior. Além disso, pode suprir uma demanda de biocombustível que hoje é atendida por vegetais e alimentos nobres, como o girassol. Tem muitas particularidades positivas também no sistema de plantio, como a praticidade, uma vez que o produtor só vai precisar retirar as sementes, sem ter que dedicar todo o tratamento delicado que é necessário com a folha — opina.
Werner afirma também estar confiante da adesão dos fumicultores à novidade.
— Vamos apoiar esse projeto e iniciar também a produção de forma experimental. Estamos destinando uma área da Afubra para essa experiência e preparando nossa usina para processar a semente. Os agricultores terão todo o suporte necessário e mesmo a introdução da mecanização da colheita é um desafio que devemos superar de forma tranquila, frente a tantos benefícios — diz.
Os testes realizados até o momento revelaram que a cultivar é resistente ao clima do Sul do país, incluindo o período de temperaturas mais baixas. A safra pode ser sincronizada com o ciclo do fumo, com duração de 120 a 250 dias. A colheita, conforme a estimativa de Camps, deve ser realizada em três etapas de corte por planta, iniciando pela parte superior, para extração das sementes.
>>> Esta é a quinta matéria da série Tradição e renda: a produção de tabaco no Sul do Brasil. As reportagens foram publicadas no RuralBR entre os dias 9 e 13 de julho e apresentam as peculiaridades da cadeia produtiva do tabaco no Sul do Brasil. São histórias que mostram a realidade da cultura que move a economia de uma região, desenvolvida principalmente por agricultores familiares.
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