Produtor do Paraná relata que além dos altos custos para transportar os produtos, há atrasos no momento de receber os insumos
André Anelli, de Guarapuava (PR)
O tabelamento dos fretes tem gerado atraso na entrega de insumos aos produtores rurais. Alguns agricultores até deixaram de investir na correção de solo das lavouras. Quem persistiu, está vendo os produtos chegar só agora.
O caminhão com ureia deveria ter chegado há pelo menos uma semana na fazenda de Rodolpho Luiz Werneck Botelho, localizada em Guarapuava, no Paraná. O atraso é motivado pelo tabelamento dos fretes, que elevou o preço dos serviços e fez com que muitos carregamentos ficassem retidos, à espera de uma queda nos preços que não ocorreu.
“Esse represamento da entrega dos adubos, em função do aumento de frete, ocorreu de duas maneiras: primeiro o aumento do custo, que muita gente relutou em aceitar; e alguma discussão da legalidade ou não desse tabelamento e com isso represou as entradas de adubo”, diz Botelho.
Para a safra que está começando, o produtor rural não vai conseguir escapar dos preços mínimos dos fretes. mas a expectativa do setor é que o Supremo Tribunal Federal considere a prática inconstitucional, para que a comercialização dos grãos não seja prejudicada também.
Segundo a Aprosoja Paraná, os estoques de passagem da última safra ainda estão em nível semelhante ao mesmo período do ano passado. A tendência é que a venda da produção no mercado futuro seja impactada, já que alguns produtores deixaram de comprar insumos e podem ficar com a produtividade comprometida.
“Lá atrás, quando saiu esse tabelamento do frete, nós tivemos um problema sério com as correções de solo. Os preços do calcário e do gesso subiram muito, puxados também pelo frete de retorno, que o pessoal não tinha noção do que era. A maioria dos produtores deixou de fazer essas correções de solo, pois isso impactou bastante no preço”, diz o presidente da entidade, Márcio Bonesi.
Enquanto o tabelamento continua em vigor, o produtor rural é quem paga o valor de embarque mais caro. Mas pelo menos tem conseguido compensar parte do prejuízo com a venda da saca a preços competitivos.
“O mercado internacional, em função dessa guerra comercial entre China e EUA, melhorou os prêmios no Brasil, justamente em função da demanda ser transferida dos EUA para o Brasil. Isso em parte tá compensando um pouco o aumento dos custos de frete”, diz o produtor Botelho.