– Tanto os alunos quanto os pais passaram a confiar mais na escola desde o início do projeto. Em pouco tempo, percebemos um aumento na autoestima das crianças e no desempenho escolar. Eles participam mais das aulas, estão mais alegres. Melhorou tudo – vibra a coordenadora da iniciativa e professora, Carina Wild.
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Vera Cruz conta com 22.702 habitantes, conforme dados oficiais do senso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Destes, 10.535 vivem na zona rural. O município fica no Vale do Rio Pardo, região que tem na produção de tabaco sua principal fonte de renda. Historicamente, a atividade é baseada na agricultura familiar, envolvendo geração após geração na lida campeira. O objetivo do Despertar é mudar cada vez mais essa realidade, reduzindo a exposição de crianças e adolescentes ao trabalho nas lavouras. O caminho, segundo Carina, é o incentivo à educação
— Oferecemos atividades que eles gostam, que têm interesse. Antes de implementar o projeto, todos os alunos foram ouvidos e eles mesmos escolheram os temas das oficinas. As famílias também reconhecem os benefícios desse aprendizado. Os pais adquirem uma visão mais ampla do futuro. Percebem que na escola os filhos desenvolvem habilidades que podem garantir uma vida melhor e produtiva, sem que eles precisem trabalhar no campo desde cedo. É uma segurança para a família — relata.
Há 14 anos, o Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), empresas associadas e a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) realizam um trabalho de conscientização e combate ao envolvimento de crianças e adolescentes na cultura do fumo. A iniciativa, denominada inicialmente O Futuro é Agora!, evoluiu para o atual programa Crescer Legal, que inclui o Projeto Despertar.
De acordo com a coordenadora, foi a partir de uma parceria entre a indústria fumageira Alliance One, a Prefeitura Municipal de Vera Cruz e a Organização Não-Governamental (ONG) Fundação Altadis que a Jacob Blész passou a receber a estrutura necessária para construir a jornada ampliada. Atualmente, são pelo menos 15 profissionais envolvidos, entre monitores, professores e parceiros.
Nos últimos 12 meses, a escola passou a contar com laboratório de informática, um refeitório reformado e diversas histórias para contar.
— Os resultados desse trabalho aparecem todos os dias. São pessoas sorridentes circulando pelos corredores, os legumes plantados na pequena horta viram alimento da comunidade escolar. Além disso, temos um grupo de dança tradicionalista gaúcha, que se formou durante a oficina e agora se apresenta em eventos do município. É um orgulho para todos nós — acrescenta Carina.
O transporte dos estudantes no contraturno é viabilizado por meio de ônibus gratuito, que percorre diversos quilômetros de estrada de chão todos os dias. Os participantes das oficinas também recebem lanche extra durante as aulas. As atividades são realizadas também durante o período de férias e, conforme a educadora, há planos de ampliação das ações de integração e conscientização. Para Carina, os ganhos vão além da esfera educacional.
— Eu sempre quis trabalhar em um ambiente assim. É muito gratificante, porque se pode ver, efetivamente, os resultados. Essas crianças e adolescentes que têm menos acesso às facilidades do meio urbano dão muito valor às coisas. Quando você vê a transformação delas, do modo como elas se comportam e encaram as coisas, se cria um vínculo para toda a vida.
>>> Esta é a terceira matéria da série Tradição e renda: a produção de tabaco no Sul do Brasil. As reportagens serão publicadas no RuralBR até esta sexta, dia 13, e apresentam as peculiaridades da cadeia produtiva do tabaco no Sul do Brasil. São histórias que mostram a realidade da cultura que move a economia de uma região, desenvolvida principalmente por agricultores familiares.
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* A jornalista Mary Silva viajou ao Vale do Rio Pardo a convite do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco).