O presidente norte-americano, Donald Trump, ameaçou impor tarifas sobre importação de aço e alumínio, mercado dominado pelos chineses. Produtores temem retaliação contra os embarques de grãos. Analista de mercado explica os impactos disso para o Brasil
As tensões comerciais entre Estados Unidos e China estão aumentando e podem afetar as exportações norte-americanas de soja para o país asiático. Há algumas semanas, o presidente dos EUA, Donald Trump, já tinha anunciado barreiras à importação de painéis solares e máquinas de lavar roupa, e nesta quinta, dia 1º, disse que vai impor tarifas sobre a importação de aço e alumínio – mercados em que a China é um player dominante. A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, afirmou que detalhes sobre a possível elevação das tarifas para a importação de aço e alumínio somente serão divulgados na próxima semana.
No Twitter, Trump disse que as indústrias norte-americanas de aço e alumínio e muitas outras foram dizimadas por décadas de comércio injusto e políticas ruins com países de todo o mundo. “Não devemos deixar nosso país, empresas e trabalhadores serem aproveitados por mais tempo. Queremos liberdade, justiça e uma política comercial inteligente”, afirmou.
Our Steel and Aluminum industries (and many others) have been decimated by decades of unfair trade and bad policy with countries from around the world. We must not let our country, companies and workers be taken advantage of any longer. We want free, fair and SMART TRADE!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 1 de março de 2018
Grupos que representam produtores rurais temem que a medida provoque uma retaliação contra as exportações de grãos dos EUA, já que a China levantou recentemente a possibilidade de impor tarifas sobre o sorgo, um grão usado em ração animal. “Essas tarifas sobre aço e alumínio muito provavelmente vão acelerar uma postura ‘olho por olho’ no comércio, colocando na mira as exportações agrícolas norte-americanas”, disse Brian Kuehl, diretor executivo do grupo Agricultores pelo Livre Comércio, com sede em Montana.
O grupo lembra que, em 2009, a China impôs pesadas tarifas sobre cortes de frango importados dos EUA após o país ter feito o mesmo com pneus importados da China. “O setor agrícola sabe por experiência própria que as exportações agrícolas são as primeiras a serem afetadas por medidas de retaliação”, disse Kuehl.
No ano passado, a China importou US$ 12,4 bilhões em soja dos EUA para alimentar seu plantel de suínos. O país asiático, que absorve mais da metade das exportações norte-americanas da oleaginosa, depende dessas importações para manter sob controle os preços de ração animal, que por sua vez mantêm sob controle os preços de carne suína. Essa carne é a principal proteína consumida na China, e um componente significativo do orçamento das famílias.
Mas a China agora parece estar em melhor posição para lidar com a falta de soja dos EUA. A inflação dos alimentos no país está negativa há mais de um ano, graças a reformas no setor agrícola, à recuperação da oferta de carne suína e a um excesso mundial de oferta de grãos. O fortalecimento do yuan também está pesando sobre o preço de alimentos importados.
Enquanto isso, o poder de barganha dos produtores norte-americanos com a China está excepcionalmente fraco. A dívida desses agricultores é alta e sua renda está diminuindo. Os preços globais de soja continuam baixos e o Brasil, principal concorrente dos EUA no fornecimento para a China, deve colher outra safra volumosa. Nesta quinta-feira, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) elevou sua estimativa para a produção de soja no Brasil em 2017/2018, de 109,5 milhões para 114,7 milhões de toneladas.
Analistas observaram que a China não conseguiria deixar totalmente de importar soja dos EUA, já que precisa de um volume razoável durante o desenvolvimento da safra brasileira, que ocorre durante o inverno do Hemisfério Norte. Mas os baixos preços de alimentos no mercado doméstico, uma moeda forte e a ampla oferta do Brasil dão mais espaço para que a China considere a soja como alvo em uma possível retaliação.
Fonte: Agência Estado
Opinião do analista de mercado:
Segundo o analista de mercado Glauco Monte, da consultoria INTL FC Stone, estas ameaças precisam primeiro sair do papel para se analisar corretamente a situação, senão é só especulação. “Se realmente isso acontecer, como o Brasil é o maior exportador de soja do mundo, e ainda tem potencial para ampliar a sua participação, isso traria sem dúvida, uma oportunidade para o mercado brasileiro, que poderia suprir esta demanda”, conta.
Entretanto, o impacto da medida não deve ser apenas positivo, garante Monte. “O lado negativo é que se reduz a demanda pela soja americana, levando em consideração o grande estoque do país, a cotação da oleaginosa deverá cair, pois a Bolsa de Chicago ainda reflete muito o que acontece nos Estados Unidos”, diz ele.