O carro elétrico não nasceu com o Elon Musk. E ele também não está sozinho nesse mercado que, no Brasil, cresceu 272% nos últimos 12 meses. Mesmo assim, quando o tema surge em alguma conversa, dificilmente o nome da empresa do bilionário, a Tesla, ficará de fora.
E no agronegócio não é diferente. Nos últimos anos, diversas empresas vêm investindo pesado em máquinas com motores elétricos, especialmente tratores.
Na Agritechnica, maior feira de tecnologia agrícola do mundo, que acontece em Hanover, na Alemanha, diferentes marcas estão expondo os seus modelos e atraindo um público gigante aos estandes, numa corrida para se tornar a “Tesla do agro”.
A chegada de uma frota de elétricos, silenciosos e isentos de emissões, oferece aos produtores rurais uma oportunidade de reduzir sua dependência dos combustíveis fósseis e a poluição gerada pela agricultura convencional.
É o caso da americana Monarch. A empresa, uma agtech da Califórnia, lançou no ano passado um trator autônomo e elétrico por US$ 50 mil, o MK-V.
O motor do MK-V fornece 40 cv de potência contínua por cerca de 10 horas de operação e uma potência de pico de curta duração de até 70 cv. A Monarch estima que uma carga completa da bateria pode ser realizada em 5 horas.
Solução verde e autônoma
Nesta terça-feira (14), na Agritechnica, Mark Schwager, presidente e co-fundador da Monarch, disse que a indústria de tratores elétricos passou a se desenvolver juntamente com a automobilística. “A partir do momento em que a produção de baterias aumentou, foi um caminho natural”, afirma.
Segundo Shwager, que neste ano viu o MK-V ser eleito como uma das invenções mais importantes e promissoras de 2023, segundo uma lista da Time, o setor tem muito para evoluir, mas a solução será verde e autônoma.
“A agricultura é uma atividade que está perdendo mão de obra nos últimos anos, então não basta zerar emissões, é preciso resolver esse problema”, diz, falando sobre a autonomia do trator.
Questionado sobre o Brasil, ele diz que a marca não tem planos de desembarcar aqui e que o país não está nem no radar. “Neste momento, estamos focados nos Estados Unidos e na Europa. O Brasil não é um mercado para a Monarch neste momento”, afirma.
A Europa também acelera na “eletrificação do agro”.
Mais elétricos no mercado
No mesmo ano em que apresenta a maior colheitadeira do mundo, a New Holland Agriculture, da CNH Industrial, também levou para seu estande na Agritechinica o T4 Electric Power, o primeiro trator utilitário totalmente elétrico da indústria.
O trator é alimentado por uma bateria de lítio de 95 kWh, que oferece um tempo de funcionamento médio de 4 horas, mas pode chegar a 8 horas, dependendo da carga de trabalho.
Com uma potência máxima de 75 cv (55 kW), o trator também oferece várias funcionalidades de autonomia, incluindo o modo Follow Me, que permite ao trator seguir o operador quando ele estiver fora da cabine, e o modo Shadow, que permite ao operador guiar a máquina remotamente.
Segundo o gerente global de marketing da New Holland, Saulo Salaber Souza e Silva, o trator pode ser carregado em menos de 1 hora. “Nós temos diferentes opções de recarga, todos padrões da indústria automotiva. É possível carregar com corrente direta, corrente alternada… Nós demos essa opção para o cliente”, diz.
Na avaliação de Souza e Silva, fora a questão da sustentabilidade e da redução de emissões, o trator elétrico também tem outras vantagens em relação ao trator movido a diesel. A vida útil da bateria, por exemplo, é estimada em 8 anos.
“Se nós estamos entregando a mesma potência, o mesmo torque, a forma como o motor elétrico entrega a mesma força é melhor que o motor diesel. O operador não precisa trocar tanta marcha, ele tem mais controle da operação. A máquina fica mais fácil de ser utilizada, fica mais silenciosa”, enumera.
Sobre a chegada no Brasil, ela está no radar da empresa, mas vai para outros mercados antes.
“O Brasil é um dos mercados preferenciais do trator elétrico, e deve chegar entre 2026 e 2027. Agora, no próximo ano, ele desembarca nos Estados Unidos e Europa”, afirma.
Culturas especiais e estufas
A marca alemã Fendt, da AGCO, também apresenta na Agritechnica um trator elétrico: o Fendt e100 V Vario.
O trator tem 55 kW e foi desenvolvido para uso em culturas especiais e estufas.
A máquina tem capacidade de bateria de 100 kWh. Isso corresponde a um tempo de operação de 4 a 7 horas para aplicações na faixa de carga parcial, como corte de folhas. Para operações com uso intensivo de energia, o tempo de operação do trator é reduzido.
O Fendt e107 V Vario será produzido na fábrica de tratores Marktoberdorf, na Alemanha, a partir do quarto trimestre de 2024. As máquinas estarão inicialmente disponíveis para os mercados-piloto da Alemanha, Noruega e Holanda.
*O editor Gabriel Azevedo acompanha a Agritechnica 2023 a convite da DLG