A ideia do governo é desestimular o cultivo de trigo brando, que tem baixa força de glúten e uso limitado pela indústria – se destina à produção de biscoitos. O cultivo do tipo brando se concentra no Rio Grande do Sul. Neste ano, os produtores do Estado conseguiram colher mais trigo pão (alta força de glúten) graças ao clima favorável ao longo de todo o ciclo e se dizem preparados para atender às novas exigências. Já os paranaenses defendem a adoção gradual das novas regras, apontando dificuldade para segregação do cereal. O plantio no Sul do país começa em maio.
O agrônomo e pesquisador Sergio Roberto Dotto, diretor geral da Embrapa Trigo, destaca o avanço que a medida traz para a produção nacional. Ele lembra que até 1990 o governo era o único comprador do trigo nacional e ao produtor bastava entregar o resultado da colheita.
– Com a privatização do setor, os agricultores precisaram aprender a vender – diz.
Desde então, acrescenta, a pesquisa vem trabalhando em melhoramento genético para ofertar variedades com maior qualidade e alta força de glúten, demandadas pelo mercado. Hoje a exigência é por trigo com força de glúten (W) entre 230 e 280, para uso na panificação, e o Brasil produz trigo com W entre 180 e 300. Com a nova regra, o cereal precisará ter W mínimo de 220 para ser classificado como tipo pão, que representa 70% da demanda nacional.
Dotto calcula que as variedades existentes hoje vão atender a 60% da demanda no Rio Grande do Sul por trigo com W superior. Quanto ao trigo brando, ele acredita que a tendência é de que passe a ser produzido sob encomenda. Para o pesquisador, o Paraná está preparado para conviver com as novas regras, pois 95% de sua produção já é de trigo pão e melhorador.
Entretanto, o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra, alerta para as dificuldades na segregação das várias variedades e defende um “tempo adicional” para cumprimento da medida. Para ele, o ideal seria a segregação do trigo por região, respeitando, no caso do Paraná, basicamente duas áreas produtoras distintas – o Norte, Oeste e Noroeste paranaense e o Centro-Sul do Estado. “Mas sem engessar”, enfatiza, acrescentando que a tendência é de cada cooperativa escolha duas ou três variedades e concentre o plantio nelas. O pedido para que a adoção dos novos critérios seja “gradual” já foi apresentado ao Ministério da Agricultura.
Lawrence Pih, diretor presidente do Moinho Pacífico, o maior do país, critica qualquer atraso na introdução das mudanças.
– Há anos tentamos implementar e sempre surge algum imprevisto. Não entendo. Parece não haver vontade para isso – reclama.
O industrial diz que o plantio de variedades não demandadas é um “vício” do produtor.
– É mais fácil. Produto (variedade) de menor qualidade tem produtividade maior – opina.
Para ele, se o governo atender ao pedido de adiamento continuará comprando o cereal não demandado pelo mercado.
– O governo sempre acaba pagando a conta – diz.