Na escola esta foi uma lição nova para Pedro Silva, de nove anos, aluno da quarta série na zona rural de Piracicaba (SP). Ele diz que nunca teve orientação em casa sobre agrotóxicos, e que o pai jamais usa equipamentos de proteção.
Pedro é filho e neto de agricultores. A escola dele recebeu nesta segunda, dia 14, a visita de profissionais preocupados com o uso incorreto de defensivos agrícolas no campo. As crianças assistiram a um filmezinho sobre os equipamentos de proteção, fizeram um prova e um desenho sobre o tema. Até as professoras gostaram da ideia.
? Nós somos uma escola rural. Então acho que está bem no dia-a- dia deles. A gente tem que estar retomando isso pra conscientizar. Conscientizando as crianças, acho que é mais fácil conscientizar os adultos ? afirma Renata Carneiro.
Foi a gravidade do problema que levou este assunto pra sala de aula. Recentemente, uma pesquisa da Fundação Osvaldo Cruz (FioCruz) mostrou que, por ano, ocorrem mais de 100 mil casos de intoxicação no Brasil. Boa parte por remédios, por picadas de animais ou até por produtos de limpeza em casa. Mas muitos dos casos mais graves, dos que levam à morte, são causados por agrotóxicos. Por isso, o trabalho feito com as crianças, que são difusores de informação, é tão importante neste caso.
? A criança tem nos ajudado muito a ser o multiplicador destes conhecimentos, das boas práticas agrícolas, do uso correto e seguro dos defensivos junto de seus pais, com a comunidade onde vivem ? explica o coordenador do projeto, José Vilhena.
Ele é responsável pelo projeto que está envolvendo as crianças, filhos de agricultores de todo país. O coordenador trabalha numa das maiores empresas em participação no mercado de defensivos no Brasil. A iniciativa da companhia neste projeto sobre segurança e saúde no campo tem sete anos. Neste período, 380 mil a agricultores foram orientados sobre o uso correto dos produtos e dos equipamentos para aplicação. O trabalho com as crianças começou há quatro anos. Uma escola de Piracicaba recebeu a primeira visita nesta segunda.
? Nós já temos mais de seis mil estudantes atendidos pelo projeto nos últimos anos. Nós temos projetos sendo realizados do Nordeste ao Rio Grande do Sul, de Mato Grosso ao Espírito Santo. Cobre as principais regiões agrícolas do Brasil ? salienta Vilhena.
Além do uso, outro problema que preocupa o setor e principalmente a indústria de produtos para a defesa agrícola é a ilegalidade no mercado.
Fernando Marini é gerente de uma campanha de combate ao agrotóxico ilegal. Só este ano, já foram apreendidos mais de 14 mil quilos de agrotóxicos proibidos no Brasil, 30% a mais do que em 2008.
Marini, que representa o Sindicato da Indústria de Produtos de Defesa Agrícola (Sindag), diz como os produtores podem evitar mais este problema:
? Não comprar produtos de pessoas desconhecidas. Não comprar produtos sem nota fiscal, sem receita agronômica que são documentos obrigatórios para acompanhar a venda de agrotóxicos no Brasil.
O agricultor Gilberto Moretti até se preocupou com a questão legal na hora de comprar dos agrotóxicos. Mas só com a questão legal. Toda semana ele aplica defensivo na plantação de hortaliças. Ele diz que a vida inteira foi assim, sem qualquer proteção, e tem lá a sua justificativa pra isso.
? Eu não vejo problema pra mim no momento. Não tive problema com a minha família. Sempre usei assim ? conta.
Como os pais de Pedro, o menino da escola, Gilberto, que também tem filhos, vai ter lá agora a justificativa pra mudar.