Alta dos preços agrícolas no atacado pesou mais no IGP-DI, diz FGV

Destaques de elevação de valores ficaram por conta das matérias-primas brutas agropecuárias, como laranjaAumentos mais intensos de preços nos produtos agrícolas no atacado levaram à taxa maior do Índice Geral de Preços -Disponibilidade Interna (IGP-DI) em fevereiro, que subiu 1,09% no mês, após avançar 1,01% em janeiro. Segundo o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, os destaques de elevação de preços ficaram por conta das matérias-primas brutas agropecuárias, como laranja (de 14,86% para 51,8%).

? A laranja representou cerca de 30% da inflação do atacado em fevereiro ? afirmou o especialista.

Quadros comentou que rumores de quebra de safra de laranja na Flórida têm valorizado a oferta do produto brasileiro e aumentado a demanda pelo item nos mercados interno e internacional. Outros aumentos de preços agrícolas que também ajudaram a formar a taxa maior do IGP-DI em fevereiro foram os registrados em açúcar cristal (8,16%) e ovos (14,36%). O avanço do índice também foi influenciado pela mudança na trajetória de preços dos alimentos in natura, que saíram de uma deflação de 1,52% para um avanço de 7,07% de janeiro para fevereiro.

Entretanto, nem todos os produtos agrícolas estão em alta no atacado. O aprofundamento da queda da soja (de -7,60% para -10,62%), segundo produto de maior peso no cálculo da inflação atacadista, ajudou a segurar em parte o avanço do indicador em fevereiro.

? Parece que está ocorrendo uma super safra da soja, e a boa oferta ajudou a diminuir os preços. Mas os aumentos nos preços de laranja e de outros produtos contribuíram muito mais para a aceleração do indicador do que a influência negativa da queda de preços da soja ? afirmou.

Além do impacto dos agrícolas, Quadros comentou que o dólar mais forte influenciou, em parte, na trajetória mais intensa de elevação de preços no atacado em fevereiro.

? Mas o câmbio ainda é um efeito secundário ? disse ele, ao explicar que o processo de recuperação nas economias doméstica e internacional, que tem puxado para cima produtos no setor atacadista, ainda é o fator principal a impulsionar o avanço do indicador.

Um dos exemplos mostrados pelo especialista para exemplificar a trajetória ascendente da demanda foi a taxa de elevação de preços de materiais para manufatura no atacado, que representa o fornecimento de insumos para a indústria, e saltou de 2,16% para 2,84%, de janeiro para fevereiro.

O economista não considera que os últimos dois resultados acima de 1% no IGP-DI, referentes a janeiro e a fevereiro, representem uma “mudança de patamar nos índices inflacionários”.

? Deixamos a fase de queda de preços, e entramos em uma fase de recuperação de margens ? afirmou.

? Muitos preços ainda não voltaram aos níveis praticados antes da crise global ? avaliou, lembrando que, durante a crise, preços e serviços no atacado e no varejo mostraram deflação, devido à menor demanda provocada pelo ambiente turbulento.

? É uma consequência da retomada econômica ocorrer um movimento de procura por lucros ? disse ele, para em seguida completar que o avanço nos índices inflacionários é “o preço a se pagar” no processo de recuperação econômica.

Mesmo com o aumento na demanda provocado pela retomada na economia, os índices inflacionários não parecem estar à beira de uma explosão, na avaliação de Quadros.

? Não acho que vamos chegar a 2% ao mês tão cedo ? frisou.