Embora houvesse expectativa no governo brasileiro, o enviado da Casa Branca que esteve na terça no Itamaraty não apresentou propostas para uma solução alternativa. Congressistas americanos, por sua vez, reclamam que os brasileiros não dizem o que querem para evitar as sanções.
Em nenhuma das reuniões, tanto de nível técnico quanto ministerial, os americanos trouxeram propostas durante visita a Brasília. No entanto, em conversas informais, integrantes do governo brasileiro haviam informado que esperavam ouvir uma oferta de início de negociações para evitar a aplicação de sobretaxas de importação, prevista para o início de abril.
? Não houve proposta. Não era para trazer, pois esta não era uma reunião de negociação. Estamos esperando pela negociação. Tem de vir da parte deles ? disse o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, depois de encontro com o secretário de Comércio dos EUA, Gary Locke, no qual também esteve a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
No site da democrata americana Blanche Lincoln, que preside o Comitê da Agricultura do Senado dos EUA, uma nota assinada em conjunto com o republicano Saxby Chambliss afirma que o governo americano espera que o Brasil inicie o processo. E reforça:
? Não podemos negociar com um parceiro que se recusa a dizer o que quer.
Miguel Jorge relatou que Locke teria garantido que o governo Obama fará em breve uma proposta de negociação. Entre os brasileiros, há consciência da dificuldade de negociar agora com o Congresso uma redução dos subsídios ao algodão, que gerou a sanção. Mas há interesse em evitar a aplicação das retaliações, porque gerariam um ambiente negativo para as relações bilaterais.
Entre as alternativas, estariam vantagens oferecidas a produtos brasileiros no mercado americano ? etanol, açúcar e carnes estariam entre os beneficiados ? e transferência de tecnologia no cultivo de algodão. No caso da carne, estaria em questão a ambicionada queda da barreiras sanitárias à entrada do produto nacional nos EUA. Depois da queixa das indústrias que processam trigo sobre efeitos inflacionários da inclusão do grão entre os que terão alíquota de importação elevada, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, tachou de “terrorismo” a ameaça de alta no pão.