No Rio Grande do Sul, o setor de proteína animal quer utilizar trigo na alimentação de aves e suínos para não depender tanto da oferta de milho. A nova alternativa tem agradado o setor produtivo do grão, que vê como oportunidade para aumentar a liquidez da atividade.
A cada ano o plantio de trigo diminui no Rio Grande do Sul, ou porque a qualidade não remunera bem o produtor, ou porque as condições climáticas acabam atrapalhando. Segundo levantamento do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, o baixo interesse pela atividade aumentou a área considerada ociosa no estado, e entre os meses de abril e outubro deste ano, o volume chegou a 1 milhão e 400 mil hectares.
“Nós temos áreas ociosas no Rio Grande do Sul, elas podem ser plantadas com trigo com esse propósito, que é mais ou menos o mesmo propósito do trigo exportação, invés de exportar para ração no mercado internacional, se coloca para essa importante indústria de proteína aqui do sul”, comenta Paulo Pires, presidente da Federação de Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul.
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Além de ser uma alternativa para o mercado, Paulo Pires afirma que seria uma possibilidade de melhorar a renda para produtores que optam pelo cereal de inverno. “ Se nós tivermos um trigo com a característica do usado na ração, nós vamos poder desenvolver cultivares que têm um potencial produtivo bem maior que o trigo pão. Nós vamos colher mais trigo porque vamos vender esse cereal um pouco mais barato, mas por hectare o produtor vai ganhar mais porque tem uma produtividade maior,” diz.
O pesquisador da Embrapa Trigo Eduardo Caierão explica que as cultivares se assemelham ao milho utilizado na ração, mas que o ideal é buscar uma variedade específica. “É uma adequação momentânea do que já existe, tentando viabilizar e dar mais liquidez ao produtor. Ao mesmo tempo já começamos a iniciar um processo de prospecção de trigos que existem em outros mercados internacionais, fazer novos cruzamentos para que a gente consiga desenvolver um trigo específico para consumo animais no caso de aves e suínos”.
Durante um encontro entre o setor produtivo de proteína, grãos de inverno e a Embrapa, que aconteceu na última segunda-feira, dia 12, formou-se um grupo de trabalho que pretende estudar este assunto de perto.
“A ideia é juntar todos esses fatores e criar mecanismos, para ser levado pro grupo de transição do governo do estado, visando propostas para o desenvolvimento da cadeia especialmente de um substituto pro milho. Dessa forma, a substituição pode ser feita para que possamos dar mais estabilidade e aumentar a rentabilidade dos produtores desses cereais aqui no Rio Grande do Sul”, afirmou Maurício Mocelin, superintendente da Agência BRDE-RS.
O diretor-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura, Eduardo Santos, afirma que além da falta de milho, a qualidade do grão nas últimas safras, deixa a desejar. “ Recentemente nos reunimos com a nossa comissão da área de grãos e insumos e foi detectado que o Rio Grande do Sul é o estado com o maior índice de contaminação no milho por micotoxinas. Isso faz com que o nosso déficit pode ser até maior que esse que estamos estimando”, afirma Santos.