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Clima prejudica produção de trigo em MG e DF

Produtores estimam perdas de 50% em Minas Gerais, mas a alta de preço vem como boa notícia

Fonte: Divulgação/Embrapa

A safra de trigo vai ser menor em Minas Gerais neste ano, influenciada pela falta de chuva que prejudicou o desenvolvimento das lavouras. Se por um lado os produtores estimam perdas de até 50%, por outro, a alta de preços no estado pode servir como alento.

Há cerca de dez dias o produtor Roberto Abrahim iniciou a colheita dos 300 hectares de trigo em sua fazenda em Araguari, na região do Triângulo Mineiro. Até agora, 10% da área foi colhida e os primeiros resultados preocupam. “Este ano nós tivemos problema no mês de abril, que foi uma época muito quente seca, e a produtividade vai ser inferior ao ano passado, principalmente nas áreas de sequeiro. No irrigado nós também vamos ter problemas por conta das altas temperaturas”, disse.

No sistema de sequeiro de Abrahim, a produtividade média vai ser de 600 quilos por hectare, menos da metade do ciclo anterior.

Na safra 2014/2015, a produção de trigo em Minas Gerais atingiu 300 mil toneladas.  O volume estimado nesta temporada é de 180 mil toneladas. A área cultivada também caiu em aproximadamente 20%.

No ano passado, Minas Gerais foi o terceiro maior produtor de trigo do Brasil. No estado, a safra começa a ser colhida no final de junho, bem mais cedo em relação aos principais concorrentes como Paraná e Rio Grande do Sul, e isto garante aos triticultores mineiros uma vantagem comercial importante.

“O trigo mineiro é o primeiro a ser colhido no mundo, no Brasil não tem trigo nesta época do ano. Isto garante ao produtor uma liquidez maior, principalmente para o trigo de sequeiro que é plantado mais cedo. Por esses motivos, nós temos uma diferença de preços para a região do Sul que varia entre 8% e 10%”, falou o vice-presidente dos tricultores de Minas Gerais, Eduardo Elias Abrahim.

Em julho, o preço médio do trigo em Minas Gerais ficou entre R$ 850 e R$ 900 a tonelada, 22% a mais em relação ao mesmo período do ano passado. O tricultor Roberto acredita que os valores vão compensar a queda de rendimento das lavouras. “No ano passado nós vendemos na faixa de R$ 700,00 a tonelada e esse ano eu já vendi a R$ 900,00 e até por R$ 1 mil”, completou.

Crescimento

A proximidade de Minas Gerais com os principais mercados consumidores e o desenvolvimento de variedades específicas para o estado estimulou o cultivo do trigo nos últimos anos. Para a associação dos triticultores mineiros, ainda falta políticas fiscais que incentivem a comercialização do produto com outros estados. “Para o estado de São Paulo, que é o maior parque moageiro, há um diferença tributária grande. O nosso trigo vai para lá tributado em 12% e, de lá para cá, é tributado apenas em 2%. Nós já tivemos a equalização desses valores em governos anteriores e estamos tentando renovar isso para abrir o mercado paulista e facilitar a comercialização do produtor mineiro”, disse.

Seca no Centro-Oeste

Já na região do Distrito Federal, moinhos e cooperativas de trigo devem recorrer ao cereal de outros estados nesta safra por causa da seca, que prejudicou a irrigação das lavouras e diminuiu a produção.

Ao contrário de Goiás, as barragens não são autorizadas no Distrito Federal e a irrigação vem exclusivamente dos rios. De acordo com o vice-presidente da Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF), José Guilherme Brenner, muitos dos 150 cooperados vão ter prejuízo este ano por causa da seca. “Muitos produtores até queriam plantar trigo, tinham interesse e não puderam porque não tem água suficiente. O trigo é uma cultura que exige mais água que outras”, disse.

A falta de chuva limitou o plantio de trigo irrigado no cerrado. Segundo os produtores, há pelo menos 25 anos não chovia tão pouco como em 2016. Por causa disso, muitos produtores como Juvenil Cenci deixaram de plantar. “Por ser uma das culturas que a gente planta por último, optamos por nem plantar”, disse.

A cooperativa tem capacidade para moer cerca de 300 mil sacas de trigo por ano, mas como a área plantada do trigo irrigado do cerrado foi 70% menor, a saída vai ser comprar de outros estados.  “É um custo que temos que ter. Quando se trabalha com o trigo do seu associado, você sabe a rastreabilidade, a origem, qual foi o trigo plantado e pode fazer a segregação. Quando compra o de fora, vai comprar o que está no mercado, então gera uma incerteza com relação à qualidade”, finalizou Brenner.

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