E, mesmo para quem já estava preparado para a cultura de frio, a alta representa incerteza para a próxima safra de verão. Para o consumidor, que está no final dessa cadeia, toda essa equação pode resultar em alimentos mais caros.
Com 100% da matéria prima importada, a indústria de fertilizantes faz seus preços com base na cotação do dólar. Para se ter uma ideia, o Rio Grande do Sul importou U$ 1,6 bilhão em fertilizantes no ano passado, o que equivale a 3,5 milhões de toneladas. Segundo dados da Emater, muitos produtores não compram os insumos com antecedência e foram pegos no contrapé com a alta nos preços. O problema é recorrente no trigo, uma das principais culturas de inverno no Estado.
– Isso aumenta muito o custo de produção dos agricultores – alerta Ataídes Jacobsen, técnico agrícola da Emater de Passo Fundo na área de trigo.
Diminuir a área de plantio do grão ou reduzir a tecnologia empregada na lavoura são as duas saídas para quem foi surpreendido pelo aumento dos preços. O presidente da Comissão do Trigo da Farsul, Hamilton Jardim, comenta que a tendência é que os produtores reduzam a área plantada e mantenham os investimentos em tecnologia, para garantir a qualidade e a valorização do grão na colheita. Segundo Jardim, a expectativa de ultrapassar 1 milhão de hectares de trigo pode ficar comprometida.
– Ainda não temos como fazer previsões. Mas esse aumento nos fertilizantes pegou muitos produtores descapitalizados em função da seca – afirma.
Apesar de reconhecer o problema, a Emater não acredita em uma redução na área do trigo.
– Continuamos esperando um aumento de 6% na área de plantio nesta safra – garante Jacobsen.
Quem continua otimista para a safra de inverno, apesar do aumento, são as indústrias de fertilizantes. Segundo o Sindicato das Indústrias de Adubo do RS (Siargs), 2012 já contabiliza um aumento de 3,8% na venda de insumos em relação ao mesmo período do ano passado. O presidente da entidade, Torvaldo Marzolla Filho, salienta que muitos produtores se beneficiaram do aumento no preço da soja e de outras culturas – em razão da mesma alta do dólar -, o que recuperou parte das perdas com a estiagem e deixou uma margem para a compra antecipada de insumos. No entanto, se o dólar no atual patamar persistir, o aumento no custo de produção poderá ser incorporado e até chegar ao consumidor.
– Mas, por enquanto, estamos otimistas, pois o agricultor ainda está ganhando com a alta do dólar – ressalta.
Quem se preveniu e comprou fertilizantes com antecedência não chega a valer por dois, como diz o ditado popular, mas conseguiu economizar, pelo menos, 30%. Foi esse o percentual de aumento nos fertilizantes desde que o dólar começou a subir. É o caso do produtor de sementes Fábio da Silva Polo, que cultiva 3 mil hectares em Santo Augusto. O plantio de 900 hectares de trigo, que serão cultivados durante o inverno, já começou, com os insumos comprados com antecedência.
– Há quatro anos fazemos um planejamento para a compra de fertilizantes no início do ano, quando os preços são, tradicionalmente, mais baixos – comenta Polo.
Segundo o produtor, a antecipação garantirá o investimento em tecnologia para a produção de sementes com excelência. A preocupação, então, recai sobre a safra de verão.
– Caso o cenário não mude, teremos um custo de produção 30% mais alto – destaca.
Quem também se antecipou na compra dos insumos foi o produtor Francisco Sana, de Getúlio Vargas. Cerca de 90% da sua lavoura de trigo já está plantada. Ele afirma que, se não houvesse comprado ureia e adubo com antecedência, poderia até reduzir a previsão de plantar 60 hectares do grão.
– Aproveitei o bom preço da soja para planejar a lavoura de trigo. Agora, estou apostando em um bom preço na hora da venda – completa.