Especial - Alternativa de aposentadoria de agricultores familiares pode ser mudar para a cidade

O terreno, em Agronômica, às margens da BR-470, com uma bela lavoura de arroz em vias de colheita, está à venda. Os proprietários, Valdir Avi, de 68 anos, e Terezina Avi, de 61, esperam apenas pela concretização do negócio para deixarem o local onde passaram os últimos 42 anos, sempre na lavoura de arroz.

Valdir tem pressão alta e já sofreu três ameaças de infarto. Terezinha caminha com dificuldade por causa de um problema na perna.

Nascido em Presidente Getúlio, Valdir, que começou na lida aos sete anos de idade ajudando os pais a tirar leite e nunca mais parou, agora não consegue mais tocar a produção com a mesma naturalidade. E, como tantos outros, lamenta não ter sucessor.

Todos os filhos dele estudaram e escolheram outro caminho. Vilson, de 37 anos, tem uma loja em Camboriú. Valdete, de 41, é conselheira tutelar em Rio do Sul, e Valnete, de 39, trabalha numa empresa em Lages, que atende o Alto Vale do Itajaí.

? A agricultura está difícil. No passado, o meu pai colocou a gente para plantar fumo e mandioca. Hoje, nesse ramo, ninguém mais vive. No arroz também não está fácil. Eu colho 1,2 mil sacos por safra. Tinha 12, 13 cabeças de gado, a Terezinha fazia queijo. Mas veio a polícia do Meio Ambiente e disse que não podia mais deixar as vacas na beira do rio. Quer dizer, eu sou proprietário, mas quem manda nas minhas terras não sou eu ? queixa-se.

Valdir acredita que os filhos tomaram o rumo certo. Está desiludido com a agricultura. Ele constata que, no interior, só restaram os velhos na roça.

? É difícil achar um jovem por aqui. É melhor eles seguirem outro caminho. Eu estou na roça porque não sei fazer outra coisa, não tenho estudo. Então, com renda ou sem renda, tive de continuar. Mas, agora, com a idade chegando, não dá mais para nós. Se conseguir comprador eu vendo, senão planto mais um ano e sigo tentando vender. Mas me preocupa ir para a cidade porque desde criança vivo no campo. Não sei como vai ser viver de aposentadoria. Vou acabar no ferro-velho ? brinca.

Terezinha acena com a cabeça, concordando. Ela também acha que os jovens se dão melhor na cidade, mesmo com pouco estudo.

? Aqui, o casal começa sozinho e termina sozinho ? resume Terezinha.

Série de reportagens O Campo Envelhece, do Diário Catarinense, conquista Prêmio Esso de Jornalismo