Os produtores de trigo do Rio Grande do Sul enfrentam atraso no plantio por causa da chuva excessiva das últimas semanas. Na importante região produtora de Passo Fundo, nenhum hectare recebeu sementes. Também há o receio de que isso comprometa o plantio das culturas de verão.
Mesmo com a trégua na instabilidade, as lavouras da região não conseguiram secar. “Deu 540 milímetros durante o mês de maio. Geralmente é em torno de 130, 170 milímetros. Nos últimos dez anos, este foi aquele em que choveu mais”, diz o produtor de trigo Antolí Fauth Mello.
Segundo o engenheiro agrônomo da Emater Cláudio Doro, as chuvas levaram muita camada superficial de solo: “E é justamente a mais rica em fertilizantes”.
O solo úmido atrasou em 25 dias o preparo da terra na lavoura de Mello. E o produtor, que vai começar o plantio quase uma semana depois do planejado, nem conseguiu fazer a segunda aplicação de herbicida.
Para dar uma ideia do atraso, basta comparar com o ano passado. Nesta época, 30% do trigo já estava plantado na região do planalto. Mas, neste ano, nenhum hectare sequer recebeu a semente.
A janela de plantio indicada no Rio Grande do Sul vai até o fim de julho nas regiões mais altas e fronteira sul. Nas áreas mais baixas, já está terminando. O agrônomo Doro mostra as implicações desse atraso sobre as culturas de verão.
“Se nós retardarmos e plantarmos no final da época recomendada, consequentemente nós vamos tirar esse trigo da lavoura lá no final de novembro, prejudicando a produtividade da cultura da soja, que é a que dá mais lucro ao produtor rural.”
Quebra de safra e preço insatisfatório têm feito a cultura desaparecer ano a ano no estado. Nesse ciclo, a área vai ser 20% menor, com 650 mil hectares plantados. E o Rio Grande do Sul, que chegou a ter 35 mil produtores, hoje tem pouco mais de 8.000. “No ano passado, nós vendíamos trigo nesta época a R$ 43, preço de balcão. Neste ano, está na base dos R$ 32”, diz Doro.
O produtor Mello reduziu a área plantada em 20%. Preço ruim, custo para produzir e importação na época de venda do produto desanimaram o agricultor: “O preço hoje é o de cinco anos atrás! Daí, no ano que vem, nós vamos plantar metade do trigo. No outro, a gente pode parar. E o governo vai ter de dizer se quer que a gente plante ou não”.