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Exportação alivia risco de elevado estoque de trigo no Rio Grande do Sul

Trigo de qualidade inferior está sendo comprado por países africanos e asiáticos, mas por preços inferiores ao mínimoFortemente prejudicada por problemas climáticos, a safra de trigo colhida pelo Rio Grande do Sul em 2014 ficou, em grande parte, fora dos parâmetros exigidos pela indústria do mercado interno. Mas a boa aceitação do produto no exterior evitou um desastre maior, fazendo com que o Estado comece a pensar na próxima safra sem estar excessivamente estocado. 

Especialistas afirmam que o quadro atual só não é pior graças aos negócios firmados com países africanos e asiáticos, principais destinos do trigo “ruim” gaúcho.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2014 o Rio Grande do Sul produziu 1,51 milhão de toneladas de trigo, volume 52% inferior ao da safra anterior. Dois terços deste volume correspondem à matéria prima de baixa qualidade, considerada imprópria para o consumo da indústria panificadora brasileira. 

O presidente da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim, disse que a expectativa é que a totalidade deste trigo comprometido seja escoada para o exterior. Segundo ele, cerca de 700 mil toneladas já foram embarcadas e outras 300 mil estariam em fase de negociação. O produto está sendo absorvido basicamente por Indonésia, Vietnã e países do norte da África

– Graças a Deus o Rio Grande do Sul achou este mercado – afirmou. 

Jardim acredita que o restante da safra de 2014 (aproximadamente 500 mil toneladas), por ter melhor qualidade, será gradativamente absorvido por moinhos (do Rio Grande do Sul ou de outros Estados) e também por produtores de ração animal. 

– O trigo está sendo vendido e o estoque remanescente não terá impacto nos armazéns para a próxima safra – avaliou.

O assistente técnico da Emater-RS Luiz Ataides Jacobsen concorda que o volume de trigo “parado” no Rio Grande do Sul é pequeno e tende a diminuir nas próximas semanas. 

– Até a primeira quinzena de março, ainda há uma janela favorável para a exportação de trigo, depois o foco passa a ser a soja – explicou Jacobsen. 

Preço

Se o Estado comemora o fato de conseguir comercializar o trigo de má qualidade produzido em 2014, o valor obtido pelo produto não é motivo de alegria. O preço mínimo estabelecido pelo governo federal é de R$ 35 pela saca de 60 quilos, mas o produtor gaúcho não consegue mais do que R$ 25 ou R$ 28 pelo cereal renegado pelo mercado interno. 

– Foi o ônus pago pela depreciação de qualidade – disse Jardim, da Farsul. 

Segundo ele, os leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro), promovidos pela Conab, pouco influenciaram na tentativa de aumentar a remuneração do produtor. 

– O trigo (de baixa qualidade) foi vendido com muito pouco auxílio de mecanismo de comercialização. Foi basicamente exportado a preços aquém dos valores no Brasil. No geral, o Pepro atendeu pouco a necessidade do produtor, em virtude da péssima qualidade da safra gaúcha – comentou. 

O primeiro leilão realizado em 2015, que ofertou 50 mil toneladas de trigo do Paraná e do Rio Grande do Sul, não teve interesse de arrematantes.

Com a baixa remuneração e a frustração herdada do ano anterior, o setor espera um encolhimento da área destinada ao trigo no Estado. Em 2014, de acordo com a Conab, os agricultores gaúchos plantaram o cereal em 1,14 milhão de hectares. Jacobsen diz que a Emater-RS ainda não tem uma previsão oficial sobre o número deste ano, mas aposta numa redução. 

– O sentimento é este – resumiu. 

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