Governo argentino modifica sistema de exportação de trigo

Exportador terá liberdade para vender o grão no momento que julgar convenienteO governo da Argentina anunciou, na noite dessa quinta, dia 5, mudanças no sistema de exportação de trigo, que vem sendo controlada com mão dura desde 2006. Criticadas pelos produtores, as cotas permitidas para exportação já não serão liberadas a conta-gotas e o exportador terá liberdade para vender o trigo permitido para exportação no momento que julgar conveniente, segundo informou o ministro de Agricultura, Norberto Yauhar.

– Basicamente, o acordo consiste em resguardar os primeiros sete milhões de toneladas que a Argentina necessita para sua administração interna. E todo o excedente vai estar totalmente disponível para que os produtores possam comercializar da forma como eles queiram – detalhou Yauhar à imprensa.

O novo esquema entrará em vigor no dia 31 de janeiro e foi sugerido pela Federação Agrária da Argentina (FAA), que representa pequenos e médios produtores. Até lá, os produtores de trigo terão de declarar quanto produziram na atual safra. O ministro disse, ainda, que o mesmo esquema deverá ser aplicado para a comercialização do milho, mas o anúncio só será realizado dentro de um mês. Segundo ele, a pauta de discussão sobre o novo mecanismo foi discutida e aprovada por todos os representantes do setor.

Segundo o ministro, o novo esquema comercial pretende evitar que os agricultores sejam obrigados a vender sua produção por valores inferiores aos fixados pelo governo, como denunciam as instituições agrícolas do país. As barreiras para exportadores eliminam a concorrência natural do mercado, o que deprime os preços do trigo que o produtor vende aos moageiros, conforme reclamações dos agricultores. Em uma tentativa de corrigir essa distorção, o governo fixou um preço que os moageiros deveriam pagar aos agricultores pelo trigo, mas o valor nunca foi cumprido, conforme denúncia da FAA.

Yauhar estimou que a colheita de trigo 2011/2012, em fase de conclusão, alcançará a marca de 13 milhões a 14 milhões de toneladas, das quais ficariam disponíveis para exportação entre seis milhões a sete milhões de toneladas. A notícia é boa para o Brasil, principal comprador do trigo argentino, que ficava à mercê da liberação das cotas argentinas para importar o produto. As restrições que vêm sendo adotadas desde 2006 para o trigo e o milho são justificadas pelo governo com o argumento de garantir o abastecimento doméstico com preços acessíveis.

Os agricultores duvidam que o novo mecanismo possa corrigir o problema porque o esquema mantém a exigência da declaração de estoques, que é rejeitada pelos produtores. Desconfiados, os produtores omitem o volume de produção, temendo algum tipo de medida confiscatória ou impostos abusivos. De qualquer forma, os representantes da Associação Argentina de Produtores de Trigo (AAprotrigo) consideram que a mudança não vai solucionar o problema de fundo que é a forte ingerência estatal nos mercados e a imposição de restrições.