A Fiesp usa os números para dizer que a situação é preocupante. Nos primeiros três meses deste ano, 14,7% da produção industrial brasileira foi para o mercado externo, pouco mais que no mesmo período no ano passado (14%), mas bem abaixo, por exemplo, de cinco anos atrás (18,9%).
Do outro lado, 20,4% dos manufaturados no mercado brasileiro vieram de fora, mais que no primeiro trimestre de 2010 (18,6%), e bem maior do que há cinco anos (13,7%). O saldo negativo da balança comercial da indústria, que foi de US$ 70 bilhões em 2010, deve atingir US$ 100 bilhões neste ano.
? Milhões de empregos deixam de ser criados no Brasil por conta do déficit na balança de manufaturados. Estamos abrindo mão de quatro milhões de empregos no país ? relata Fonseca.
O dólar desvalorizado compromete, por um lado, o faturamento de quem exporta. Por outro, faz a economia do Brasil ficar mais atrativa para o produto vindo do exterior. Para a Fiesp, está mais do que na hora do governo agir para evitar que a cotação da moeda americana caia ainda mais em relação ao real.
Neste seminário, a entidade reuniu economistas e representantes do governo para discutir a questão cambial. O diretor do Departamento de Comércio Exterior disse que seria favorável à indústria uma taxa em torno de R$ 2. E sugeriu maior controle sobre o mercado futuro de câmbio para evitar a especulação.
? Aumentar o risco de operações no mercado futuro. Significa fazer com que as operações no mercado de câmbio tenham maior volatilidade. O Banco Central tem como fazer isso através de swap cambial e aumentar o prazo de exposição do especulador. Não se admitir mais exposições de curto prazo, mas posições no mínimo, por exemplo, de 180 dias. Isso faz com que, ao ter maior prazo, ele possa perder o apetite pela especulação ? afirma Fonseca.
De janeiro até o dia 3 de junho, a entrada de dólares na economia brasileira superou a saída em mais de US$ 42 bilhões. O economista da PUC/SP, Antônio Corrêa de Lacerda, lembra que os juros altos ajudam a atrair o capital de fora. Ele defende mudanças nos critérios utilizados pelo Banco Central para definir a política de juros no Brasil.
? Nós deveríamos sim ter em mente não só as metas de inflação, como também o nível de atividade e o nível cambial. Portanto, o ideal seria você ter um sistema de metas múltiplas, que é, aliás, o que faz a maior parte dos países. O controle de capitais isoladamente não resolve a questão fundamental, porque o diferencial entre a taxa de juros doméstica e internacional é muito elevado ? afirma.