O agricultor João Batista da Silva é um entre os tantos brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza. Em outubro do ano passado, o trabalhador rural encontrou a chance de mudar seu destino.
Silva realiza o sonho de ter a própria terra junto com outras 39 pessoas e suas famílias. Eles criaram uma associação para comprar a fazenda Boqueirão, em Unaí, em Minas Gerais. Os 400 hectares foram divididos em lotes.
? A conquista foi através de um grupo. O sindicato encontrou essa fazenda, formou-se uma diretoria que tem presidência, secretário, tesoureiro. Essa diretoria negociou com o proprietário da Fazenda um preço e através do crédito fundiário a gente teve acesso a ela. Foram R$ 600 mil ? explicou o presidente da Associação Unaí, Nelson Luiz Correia.
Cada agricultor financiou a sua parte pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário, que tem uma linha específica para o combate à pobreza rural. O limite de crédito varia de acordo com a região, e gira em torno de R$ 40 mil por família. A dívida deve ser paga em 17 anos com dois anos de carência, sendo que os recursos usados na construção da moradia e encanamento são a fundo perdido. Para ter direito ao benefício, os produtores devem ter uma renda de até R$ 15 mil por ano e estarem organizados em associação.
O primeiro passo foi conseguir comprar a terra. Agora, esses agricultores aguardam outro auxílio do governo, para financiar e aumentar a produção e, assim, deixarem de ser empregados para serem donos do próprio negócio.
O produtor leiteiro Élio Teixeira de Souza espera a liberação de recursos do Pronaf A para comprar ordenhadeira, tanque de resfriamento de leite e aumentar o plantel. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, até o fim deste mês, cada agricultor vai poder acessar um crédito de R$ 20 mil, distribuídos em três parcelas.
? A gente vai ser parceiro para fazer esse recurso chegar dentro do prazo ? disse o secretário de Reordenamento Agrário, Adhemar Lopes de Almeida.
O produtor de milho José Rodrigues Gomes aprendeu a racionar água, e usa a criatividade para manter a produção de 1,6 mil espigas a cada dois meses. A comunidade tem apenas um reservatório. E também não tem energia elétrica.
? Estamos aguardando, esperando a hora que o banco liberar o Pronaf A, pra gente plantar mais milho, como ração pro gado, plantar capim, formar o quintal da gente direito ? completou o produtor.
Os agricultores usam alternativas antigas para iluminar a casa enquanto o Luz Para Todos, como o Pronaf, continua só na promessa. É assim, esperando, criando e improvisando que as famílias da Fazenda Boqueirão vão tocando a vida e esperando o dia em que o Brasil não vai ter mais cerca de quatro milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza rural.