A indústria moageira foi o principal alvo das críticas de parlamentares e produtores durante audiência realizada pela Comissão de Agricultura para debater a proposta de política para a cultura do trigo na safra 2012/2013. O deputado Moacir Micheletto, autor da proposta de audiência, disse que os moinhos retardam as compras e questionam a qualidade do trigo nacional, mas continuam adquirindo o cereal paraguaio, que é resultado da semente desenvolvida e cultivada no Brasil. Ele disse que, na semana passada, vendeu trigo a R$ 24,00 a saca, bem abaixo do preço mínimo de garantia, que é de R$ 28,00 a saca.
O assessor institucional da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), Reino Pécola Rae, contestou que, neste período de final de colheita, os moinhos tenham suspendido suas compras para pressionar os preços. Ele afirmou que a comercialização está normal e que as compras são diluídas ao longo dos doze meses do ano.
Reino Pécola explicou que existe um excesso na produção nacional de trigo soft, adequado para biscoitos, e oferta insuficiente do cereal com maior força de glúten, que é utilizado na panificação. Segundo ele, as lavouras de trigo com maior teor de proteína têm menor produtividade. O cultivo do cereal com menos força de glúten apresenta maior rendimento, “o que parece ser uma ótima oportunidade, mas gera problema na hora da comercialização”.
O representante da Abitrigo afirmou que a intervenção governamental, nos anos 70, por meio da pesquisa agropecuária e garantia de preços, viabilizou a produção nacional de trigo. Ele argumenta que a intervenção hoje é desnecessária, pois o setor deve “caminhar com os próprios pés”. Ele defende investimentos em infraestrutura e revisão na legislação de cabotagem, que privilegia as empresas nacionais de navegação e oneram o frete, além de tarifa única de ICMS nas operações interestaduais de trigo e derivados.
A legislação de cabotagem também foi criticada pelos produtores rurais, que pedem que o governo autorize a utilização de navios de bandeiras estrangeiras, no transporte do trigo nacional e derivados, ao longo da costa brasileira. Outra reivindicação dos produtores ao governo é a garantia de recursos no Orçamento da União do próximo ano para o programa de subvenção federal ao seguro rural.
Eles também pedem que o seguro cubra as perdas de qualidade decorrentes de eventos climáticos. Na área tributária, os produtores pedem desoneração de PIS/Cofins nas compras de produto nacional pelas indústrias e reivindicam alíquota única de IMCS nas operações interestaduais de trigo e derivados.
O deputado Reinhold Stephanes (PMDB/PR) disse que em sua gestão no Ministério da Agricultura questões ligadas à triticultura faziam parte da agenda de prioridades. Ele afirmou que conversou dezenas de vezes com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre a necessidade de cotas de importação de trigo e aumento da TEC para compra de países fora do Mercosul.
? Convencer o ministro da Fazenda é uma tarefa extremamente difícil, apesar de o cereal ter uma participação de apenas 10% no preço final do pãozinho ? afirmou.
Stephanes comentou que as políticas para o trigo não constavam da agenda do seu sucessor, Wagner Rossi (PMDB/SP), e ainda não estão na do ministro Mendes Ribeiro.