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Queda de 22% no consumo do trigo preocupa a indústria

Necessidade de importação deixa o produto mais caro, e a quebra de safra no Sul do país vai aumentar importação em um milhão de toneladas; tema foi debatido no 22º Congresso Internacional do Trigo, em Atibaia (SP)

A retração no consumo de trigo e seus derivados preocupa a indústria. O assunto foi discutido durante o 22º Congresso Internacional do Trigo, em Atibaia, no interior de São Paulo. Dados da Associação Brasileira das Indústrias do Trigo (Abitrigo) mostram que o consumo por pessoa do cereal caiu de 54 kg em 2014 para 42 kg neste ano, uma queda de 22%. Com a necessidade de comprar o cereal no mercado externo, cotado em dólares, o pão francês, biscoito, macarrão e farinha para bolo acabam ficando mais caros. A indústria reduziu a produção de derivados do grão em 10% no mês de setembro.

O gerente nacional de trigo da indústria Bunge, Edson Fernandes Csipai, mostra preocupação: “O fundo do poço chegou com o consumo neste patamar. Agora a tendência é de melhora. Dependemos muito do cenário político e econômico. Hoje, a proteína animal está mais em conta que um pão francês. Vale lembrar também que a indústria está trabalhando com margens apertadas, muito por causa da alta no dólar e do custo da energia elétrica”.

O sócio da consultoria MB Associados José Roberto Mendonça de Barros acredita que o consumo deve passar por um cenário de retração por, pelo menos, mais seis meses. “A queda é uma realidade e o mercado deve continuar difícil nos próximos meses, por causa de um aumento na taxa de desemprego que pode chegar a 10%. Com isso, o orçamento das famílias diminui, e o consumo, também”, diz Mendonça de Barros.

Importação maior

A quebra de safra do trigo no Sul do país vai aumentar a importação do cereal em um milhão de toneladas para 2016. No último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção do trigo brasileiro, que seria de 7 milhões de toneladas, caiu para 6,6 milhões de toneladas no último levantamento. Mas o próprio Ministério da Agricultura imagina uma produção menor, em torno de 5,5 milhões de toneladas.

Responsáveis por mais de 85% do cereal brasileiro, o Paraná e o Rio Grande do Sul sofreram com fortes geadas, o que gerou essa quebra de safra. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Trigo (Abitrigo), Sérgio Amaral, projeta uma demanda dos moinhos em 11 milhões de toneladas. “A necessidade de importação está na diferença para 11 milhões de toneladas. Serão compras basicamente da Argentina e outras localidades. Uma notícia boa para o setor é a abertura de mercado para a compra do trigo russo, mas precisamos ver se as barreiras sanitárias foram resolvidas”, diz Amaral.

Para o gerente nacional de trigo da Bunge, a necessidade de compra do trigo externo vai crescer em relação ao ano passado. “Dos 5,5 milhões de toneladas, para moagem vão sobrar cerca de 3,5 milhões de toneladas. Nossa importação será 1 milhão de toneladas maior que 2014”, comenta Edson Fernandes Csipai.

José Mendonça de Barros explica que o problema é causado pela forte dependência da região Sul do país. A expansão do cereal para outras regiões, segundo ele, é fundamental. “Hoje temos o trigo produzido em dois estados e consumidos pelo Brasil inteiro. Seria fundamental aumentar a produção para regiões novas. No Nordeste, no caso do milho, o transporte do grão não deu certo, só começou a melhorar quando foi produzido na região do Matopiba [Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia]”, conclui.

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