Relator da ONU afirma que falta diálogo entre índios e fazendeiros no Brasil

James Anaya terminou nesta segunda visita de 12 dias ao paísFalta diálogo entre as partes interessadas para chegar a um consenso em situações semelhantes a que será julgada nesta quarta, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidirá se a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, deve ser contínua ou não. Essa foi uma das principais conclusões do relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos e as Liberdades Fundamentais dos Povos Indígenas, James Anaya, depois de 12 dias de visita ao Brasil.

? O que eu esperaria é que houvesse um diálogo entre as partes para se chegar a um acordo sobre do desenvolvimento adequado para todos na região ? afirmou.

De acordo com Anaya, “é evidente que com freqüência os povos indígenas não têm controle sobre as decisões que afetam suas vidas e suas terras, mesmo quando essas já foram oficialmente demarcadas e registradas, por causa de invasões, mineração e outros fatores”.

Ao se manifestar sobre a disputa entre índios e ruralistas pela terra indígena Raposa Serra do Sol, ele disse que é necessário observar a documentação existente sobre as terras para fazer a demarcação de uma reserva indígena. Anaya afirmou que, durante sua visita, pôde observar situações distintas nas diferentes regiões.

? Em alguns lugares, os fazendeiros, os agricultores chegaram sem títulos, sem haver comprado um título, de boa-fé, e é preciso reconhecer isso ao revisar os seus interesses legítimos. Isso comparado às demandas dos povos indígenas, que têm, sim, em muitos casos, direitos legítimos reconhecidos ? disse.

Em outras regiões, prosseguiu, há lugares onde os agricultores têm terras reclamadas por povos indígenas, mas têm títulos e estão nas terras de boa-fé. Um exemplo citado por ele foi o dos agricultores de Dourados (MS). Para Anaya é possível o diálogo em área onde há posse oficial da terra.

? Eu disse a eles que é necessário levar em conta os seus interesses legítimos. Que não se pode descartar o fato de que eles compraram, sim, de boa-fé, terras ? contou.

Sobre o conflito nas terras em Roraima, Anaya observou que há divergências sobre que modelo de desenvolvimento deveria ser adotado na região.

? Eu creio que todos os interessados [indígenas e fazendeiros, favoráveis e contrários à demarcação contínua da reserva] são a favor de um desenvolvimento que beneficie a todos ? ressaltou, referindo-se às suas conversas com fazendeiros e com índios da região.

Anaya evitou manifestar qualquer opinião ou expectativa mais concreta sobre o processo que deve ser julgada pelo STF. Ele demonstrou confiança na decisão dos magistrados e acrescentou ainda que não observou nenhuma atitude beligerante na região, durante a sua visita.